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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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480 Padre Mateus Ribeiro<br />

de acabar a vi<strong>da</strong>, muitos séculos vive quem tão honra<strong>do</strong> morre, pois a causa<br />

faz a morte ser honrosa ou abati<strong>da</strong>.<br />

Já a este tempo vinha preparan<strong>do</strong> a aurora a luzi<strong>da</strong> estra<strong>da</strong> <strong>do</strong> horizonte<br />

para o triunfo <strong>do</strong> sol, que vence<strong>do</strong>r <strong>da</strong>s escuras sombras <strong>da</strong> noite, arvoran<strong>do</strong><br />

seus resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> troféu no brilhante carro, se avizinhava, quan<strong>do</strong><br />

Raimun<strong>do</strong> desejan<strong>do</strong> ver de dia se com os extremos <strong>da</strong> beleza de Flora se<br />

haviam seus olhos engana<strong>do</strong> de noite, entrou com Reginal<strong>do</strong> a <strong>da</strong>r-lhe os bons<br />

dias, e viu que o encareci<strong>do</strong> na francesa Anar<strong>da</strong> tinha si<strong>do</strong> pintura de morta cor<br />

para comparar-se com Flora. Admirou-se de vê-la por prodígio, porque sempre<br />

estes sustentaram a admiração, que a formou a natureza para cópia de<br />

fermosura, se, sen<strong>do</strong> única, pudera em outra ser copia<strong>da</strong>. Desmentiu os<br />

hipérboles por pequenos, porque com Flora nenhum hipérbole foi grande. Bem<br />

puderam <strong>da</strong>r os olhos que a viram comissão a to<strong>da</strong> a eloquência para<br />

encarecê-la, se a mesma vista não suspendera to<strong>da</strong>s as eloquências para<br />

poder louvá-la. E faltan<strong>do</strong> a quem a via to<strong>da</strong> a eloquência para falar, só seus<br />

olhos tinham a maior eloquência para persuadir. Nem sempre o médico as<br />

enfermi<strong>da</strong>des cura, disse Aristóteles: mas tinha Flora em seus olhos tão subi<strong>da</strong><br />

a moção no olhar que parecia se não <strong>da</strong>va distância entre o ver e persuadir,<br />

pois para ser de to<strong>do</strong>s ama<strong>da</strong> bastava que chegasse a ser de to<strong>do</strong>s vista.<br />

Rendeu as graças a Raimun<strong>do</strong> <strong>do</strong> favor que lhe fazia, e lhe pediu<br />

quisesse largar as velas para partirem: menos petição bastara para ser<br />

ofereci<strong>da</strong> de quem avaliava por mimo <strong>da</strong> ventura haver ocasião de agradá-la.<br />

- Oh venturoso pesca<strong>do</strong>r (dizia Raimun<strong>do</strong>), que bem sem as malhas de<br />

tuas redes soubeste pescar a maior beleza junto com a maior fi<strong>da</strong>lguia!<br />

Quan<strong>do</strong> se viu junta união de tal valor e fermosura? Se se mostrou contigo tão<br />

amorosa a ventura no mais, como deixará de favorecer-te no menos? Subiu-te<br />

de pesca<strong>do</strong>r a senhor, de cria<strong>do</strong> a esposo, favor que qualquer deles pudera<br />

desvanecer-te de feliz; mas ain<strong>da</strong> para maior aplauso <strong>da</strong> subi<strong>da</strong>, te deu a maior<br />

beleza que meus olhos viram, para que na<strong>da</strong> ten<strong>do</strong> que invejar, só tu sejas de<br />

to<strong>do</strong>s inveja<strong>do</strong>. Nunca a fortuna aos outros reparte tu<strong>do</strong> junto, porque ten<strong>do</strong><br />

que desejar, tenham mais que lhe pedir; mas para contigo se mostrou tão<br />

pródiga nos favores que na<strong>da</strong> te quis deixar que lhe peças, porque na<strong>da</strong> te<br />

deixou que mais desejes.

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