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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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432 Padre Mateus Ribeiro<br />

to<strong>da</strong> a fermosura que com ele se aplaudia perde muito <strong>da</strong> estimação e o tempo<br />

lhe vem a gastar o raro <strong>da</strong> admiração e ain<strong>da</strong> o luzimento <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de. Não<br />

há cousa, disse Cícero 423 , que o tempo não deslustre e com seu discurso<br />

abata: murcham-se as flores, arruínam-se os edifícios, mu<strong>da</strong>m-se os rios,<br />

secam-se as fontes e finalmente deixa em assombros de cadáver o que foi<br />

lisonja <strong>da</strong> admiração; e como desta pensão na<strong>da</strong> na terra se isenta, que, como<br />

diz o padre Santo Agostinho, para nosso desengano ordenou Deus que o<br />

tempo sempre corresse e não parasse, não duvi<strong>do</strong> que faltan<strong>do</strong> a Alberto a<br />

grandeza que se prometia, venha a desestimar to<strong>do</strong> o agra<strong>do</strong>, pois de ordinário<br />

de resoluções repentinas se seguem arrependimentos vagarosos.<br />

Além disto me parece que neste sucesso de Amatilde em parte an<strong>da</strong>stes<br />

venturoso, pois se com ela chegásseis à presença <strong>do</strong> duque, publican<strong>do</strong> a<br />

palavra que vos tinha <strong>da</strong><strong>do</strong> de ser vossa esposa, poderia ele encontrá-lo como<br />

tão senhor e parente tão chega<strong>do</strong> <strong>do</strong> marquês defunto, por seres pessoa,<br />

suposto que ilustre, enfim vassalo seu, sem títulos que a mais vos abonassem,<br />

e se fizésseis instâncias, [man<strong>da</strong>ria] ou prender-vos ou desterrar-vos fora de<br />

seus esta<strong>do</strong>s e a ela metê-la em um convento, de que ficareis mais desairoso<br />

que não mu<strong>da</strong>r-se uma mulher, varian<strong>do</strong> de parecer em escolher mari<strong>do</strong>, em<br />

que quan<strong>do</strong> imaginais que perdestes tu<strong>do</strong>, ficais sem perderdes na<strong>da</strong>, pois<br />

nem na pessoa, nem na fazen<strong>da</strong> padeceis detrimento; e se com Amatilde não<br />

ganhastes, na<strong>da</strong> sem Amatilde perdestes. Estais, senhor, de vossa vontade<br />

para elegerdes esta<strong>do</strong>, ou conforme vossos estu<strong>do</strong>s, ou conforme vossa<br />

eleição. Contentai-vos com que Alberto e Amatilde estão castiga<strong>do</strong>s, ela sem<br />

os títulos e ele sem as ren<strong>da</strong>s: que ofender a principais soberanos sempre leva<br />

por companheiro o castigo.<br />

O quererdes desterrar-vos é desacerto, que só os que cometem delitos<br />

padecem essa pena, como diz Cícero; e não é justo que deis a vossos pais tão<br />

injustos prazeres, quan<strong>do</strong> lhe deveis granjear os maiores alívios. Sois único e<br />

como tal ama<strong>do</strong>, como os quereis desamparar quan<strong>do</strong> de maior consolação<br />

necessitam? Porque intentáveis que paguem eles na tristeza a pena que<br />

mereceu Alberto na ousadia? E se me disserdes que o fazeis de<br />

envergonha<strong>do</strong>, é engano de vosso sentimento; pois aonde não há delito<br />

Cicer., De divin.

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