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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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304 Padre Mateus Ribeiro<br />

Aprovou o general o parecer <strong>do</strong> senhor Camilo, pai <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong>,<br />

como mais acerta<strong>do</strong> e menos arrisca<strong>do</strong>, e assim o seguiram os mais que<br />

votaram nesta matéria, acrecentan<strong>do</strong> ser mais acerto per<strong>do</strong>ar as vi<strong>da</strong>s aos<br />

culpa<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que arriscar as vi<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que na galé estavam inocentes<br />

e a <strong>da</strong> senhora Lucin<strong>da</strong>, a quem por livrá-la vínhamos to<strong>do</strong>s empenha<strong>do</strong>s. Lá<br />

disse Demóstenes 310 que sempre os prudentes devem escolher <strong>do</strong>s conselhos<br />

os mais proveitosos. Despacharam ao mensageiro com um salvo conduto <strong>do</strong><br />

general em que prometia a vi<strong>da</strong> a to<strong>do</strong>s os mouros e a Zaide Sultão a liber<strong>da</strong>de<br />

com os que o acompanharam quan<strong>do</strong> saíram a roubar Lucin<strong>da</strong> por man<strong>da</strong><strong>do</strong><br />

<strong>do</strong> capitão Juliano, aos quais <strong>da</strong>ria embarcação e mantimento para se irem<br />

para Berbéria, com condição que entregaria a Lucin<strong>da</strong>, constan<strong>do</strong> de seu dito<br />

não lhe ser feito ofensa nem agravo; e entregaria preso em ferros a Juliano e a<br />

galé inteiramente com to<strong>do</strong>s os petrechos com que tinha saí<strong>do</strong> <strong>do</strong> porto de<br />

Nápoles.<br />

Contentou-se o mouro <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>, como quem temia uma afrontosa<br />

morte, e <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se-lhe as seguranças que ele pediu para segurança <strong>do</strong><br />

capitula<strong>do</strong>, se embarcou o senhor Camilo no esquife <strong>da</strong> galé capitania com<br />

desejos de ver a sua filha, in<strong>do</strong> eu com ele e outros amigos. E chegan<strong>do</strong> à<br />

camera <strong>da</strong> galé, vimos a senhora Lucin<strong>da</strong> tão enfraqueci<strong>da</strong> e demu<strong>da</strong><strong>da</strong> de sua<br />

antiga beleza que só o senhor Camilo podia conhecê-la.<br />

- Oh filha minha (disse choran<strong>do</strong> o lastimoso pai), que mu<strong>da</strong>nça é esta<br />

de minha fortuna? O esta<strong>do</strong> em que de antes te via e o em que agora te vejo?<br />

Quem te roubou as rosas encarna<strong>da</strong>s de teu rosto, a fermosura <strong>do</strong>s olhos, a<br />

gala <strong>do</strong> <strong>do</strong>naire, o gracioso <strong>da</strong> vista e o agradável <strong>do</strong> gesto? Esta és tu,<br />

Lucin<strong>da</strong>? Mal o conhecem meus olhos se o não testemunhara meu coração.<br />

Oh queri<strong>da</strong> pren<strong>da</strong> de meus senti<strong>do</strong>s, perdi<strong>da</strong> para meu tormento e acha<strong>da</strong><br />

para minha mágoa: perdi<strong>da</strong> para seres mais estima<strong>da</strong>, se pode chegar meu<br />

amor a mais estima! Quem me assegurara a mim que havia hoje de ter dia de<br />

tanta ventura que te tivesse restaura<strong>da</strong>, haven<strong>do</strong>-te chora<strong>da</strong> tantos dias<br />

perdi<strong>da</strong>? Ora, filha minha, suspende o extremo de teu sentimento, desterra o<br />

profun<strong>do</strong> de tua tristeza, que aqui tens a um pai que com finezas te ama e com<br />

desvelos te busca; que em ti tem cifra<strong>da</strong> sua alegria, porque sem ti não quer<br />

Demost., in Olynth.

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