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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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386 Padre Mateus Ribeiro<br />

haverem satisfeito a sede que os tinha molesta<strong>do</strong>, escusan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> sol, não<br />

com a sombra <strong>da</strong>s árvores que no sítio não havia, mas com a que lhes causava<br />

a <strong>do</strong>s incultos pene<strong>do</strong>s que a fonte em ro<strong>da</strong> cercavam, o Ermitão lhe disse<br />

assim:<br />

- O excesso <strong>do</strong> calor que o sol a estas horas mostra e o cansaço <strong>do</strong><br />

caminho que hoje senti<strong>do</strong> temos, nos obriga a descansar ao abrigo desta fonte,<br />

que se bem é tão limita<strong>da</strong> na corrente, como desampara<strong>da</strong> no sítio, contu<strong>do</strong> a<br />

faz parecer-nos cau<strong>da</strong>losa o desejo que trazíamos de vê-la e as desconfianças<br />

de encontrá-la. E se vosso caminho, senhor, for o mesmo que seguimos, e não<br />

tendes precisa causa que vos obrigue a maior pressa, estimarei vamos em<br />

companhia, como abran<strong>da</strong>r o sol o mais intenso <strong>do</strong>s raios que agora nos<br />

molestam.<br />

- É, senhores (respondeu o forasteiro), meu caminho tão incerto como<br />

de quem vai seguin<strong>do</strong> os passos <strong>da</strong> fortuna, e sen<strong>do</strong> esta tão vária, que<br />

consiste seu ser na própria mu<strong>da</strong>nça, que passos pode <strong>da</strong>r seguros quem se<br />

guia por farol tão inconstante? Dela disse Marco Túlio 379 que era nece<strong>da</strong>de<br />

louvá-la e vituperá-la soberba, porque quan<strong>do</strong> se agradece então falta e<br />

quan<strong>do</strong> se culpa então favorece. E como minha vi<strong>da</strong> é um espelho em que se<br />

retrata ao vivo sua pouca firmeza, nem sei para onde caminho derrota<strong>do</strong>, nem<br />

saberei afirmar que fim poderão ter os perío<strong>do</strong>s que acompanha<strong>do</strong> de minhas<br />

tristezas sigo.<br />

- O primeiro móvel de nossas acções (disse o Ermitão) ensina<br />

Aristóteles 380 que é o fim a que se dirigem; e o Séneca diz que não há caminho<br />

sem termo, em que parece assim como to<strong>do</strong>s os rios tem no mar seu termo e<br />

seu sepulcro, assim parece cousa difícil que ignoran<strong>do</strong> vós, senhor, o fim,<br />

prossigais no seguimento <strong>do</strong>s meios. E se a causa permite manifestardes o<br />

motivo de vosso sentimento, porventura que quan<strong>do</strong> não consigais remédio,<br />

talvez que recebais alívio.<br />

- Esse (respondeu o passageiro) tenho por impossível, e para que<br />

conheçais, senhores, que com justa causa dificulto o alívio, afirman<strong>do</strong> ser<br />

impossível a meus pesares o remédio, satisfarei aos desejos que mostrais de<br />

Cicer., 1. De invent.<br />

Arist., Phisic. 2. in Epist.

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