17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 863<br />

experimenta<strong>da</strong> nos enganos, não conheci o fraudulento, senão quan<strong>do</strong> foi<br />

irremediável o nocivo! Caem os enganos sobre as desgraça<strong>da</strong>s e não sobre as<br />

venturosas. Viu-me pobre, e se de antes lhe pareci fermosa, a pobreza faz<br />

agora que lhe pareça feia. Sofrer o agravo sem produzir a queixa é tomar<br />

postila para aprender a insensível. No centro se vem a igualar to<strong>da</strong>s as linhas,<br />

e no amor, se é ver<strong>da</strong>deiro, tu<strong>do</strong> se iguala; que importava o eu ser pobre e ele<br />

rico, quan<strong>do</strong> o amor iguala tu<strong>do</strong>? Se me considerou pobre, para que me<br />

pretendia? E se nisso lhe parecia desigual, para que me inquietava? Para que<br />

fazia ponte de vossa amizade para passar a minha desonra? E sen<strong>do</strong> vós, meu<br />

irmão, a mais cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa sentinela de meu honesto proceder, viestes a ser, sem<br />

o advertir, o meio mais propínquo de meu crédito se despenhar. Aqui estou a<br />

vossos pés: se meus erra<strong>do</strong>s pensamentos vos merecerem a morte, ou me tirai<br />

a vi<strong>da</strong>, ou procurai o remédio a minha eterna <strong>do</strong>r.<br />

Cap. XV.<br />

Em que Constantino prossegue o que passou com Camilo<br />

Deu fim Diana a sua queixa, mas não a seu tormento, que a queixa tinha<br />

a origem na voz, mas a pena a origem no coração. Continuou as lágrimas de<br />

magoa<strong>da</strong>, porque tinha a fonte nos pesares e são estes os aquedutos que<br />

nunca param enquanto a ânsia não cessa. Ouvi, e não sei como pude ouvir<br />

narração para mi tão odiosa, que desejara haver nasci<strong>do</strong> sur<strong>do</strong>; e suposto que<br />

Aristóteles 826 diz que os ouvi<strong>do</strong>s são as estra<strong>da</strong>s de aprender, eu desejara<br />

nunca antes chegar a aprender a troco de sucesso tão desgraça<strong>do</strong> não poder<br />

ouvir. Lá disse Plutarco 827 que <strong>da</strong>s cousas indecorosas e inhonestas se deviam<br />

apartar os ouvi<strong>do</strong>s; e era esta para meu crédito tão indecente que se lá<br />

fingiram os poetas que por não ouvir Ulisses o suave e enganoso canto <strong>da</strong>s<br />

marítimas sereias, se tapou os ouvi<strong>do</strong>s com cera por que a harmónica melodia<br />

o não fizesse naufragar, eu tomara ter impedi<strong>da</strong>s as orelhas por não<br />

desesperar com o que ouvia. Para vingar em Diana minha ira não o consentiam<br />

Ar., De sesu. & sens.<br />

Plut., Deaud. Poet.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!