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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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138 Padre Mateus Ribeiro<br />

armas como <strong>da</strong>s letras, secular e eclesiástico, não se ouvem queixas e<br />

clamores de se adiantar o favor ao merecimento, de se antepor a valia aos<br />

serviços? Da igual<strong>da</strong>de e justiça com que os lacedemónios governavam sua<br />

república se conta por encarecimento que pertenden<strong>do</strong> o nobre lacedemónio<br />

Parídetes ser eleito e admiti<strong>do</strong> em um conselho e magistra<strong>do</strong> de trezentos<br />

sena<strong>do</strong>res, que em certa ocasião haviam de escolher-se <strong>do</strong>s ci<strong>da</strong>dãos de<br />

Esparta, e não sen<strong>do</strong> então grande número admiti<strong>do</strong>, ele se tornou a sua casa<br />

mui contente e satisfeito de que estivesse a sua república tão florente de<br />

sujeitos beneméritos que trezentos lhe fossem antepostos e avantaja<strong>do</strong>s. Não<br />

sentiu queixas o discreto mancebo, porque viu a justiça <strong>da</strong> eleição, e mais se<br />

alegrava <strong>do</strong> bem <strong>da</strong> sua república, em que tanta justiça e igual<strong>da</strong>de via, <strong>do</strong> que<br />

o entristecia a repulsa que de não ser eleito sentir pudera.<br />

Porém se no tempo presente vemos tantos beneméritos sem prémio,<br />

sem favor, desestima<strong>do</strong>s assim nas armas como nas letras, e vemos<br />

galar<strong>do</strong>a<strong>do</strong>s e com cargos e postos honrosos a muitos que menos<br />

merecimentos e fun<strong>da</strong>mento tinham, somente porque a lisonja ou respeito lhe<br />

deu confianças para pertenderem, como pode justamente faltar queixas, nem<br />

como podem as repúblicas serem bem governa<strong>da</strong>s, nem permanentes? Sen<strong>do</strong><br />

assim que um sábio ain<strong>da</strong> pobre e abati<strong>do</strong> pode ser muitas vezes de proveito a<br />

quem dele necessitar menos imagina. Queixa é esta que com razão se pode<br />

ter de muitos senhores e poderosos <strong>da</strong> terra que se sirvam de ignorantes, com<br />

que muitas vezes se arruínam, e que deixem de ocupar a sábios, a discretos e<br />

prudentes, com que ordinariamente se asseguram.<br />

Lembra-me ao intento aquela história referi<strong>da</strong> pelo Beluacense 188 no<br />

espelho historial, e é que reinan<strong>do</strong> na índia Avenir, rei poderoso e soberano,<br />

havia entre os grandes de seu reino um senhor que tinha maior parte que to<strong>do</strong>s<br />

em sua privança. Era este cristão, ain<strong>da</strong> que oculto, por ser o rei com quem<br />

privava idólatra; era juntamente <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de grandes partes e de uma condição<br />

mui benévola e pie<strong>do</strong>sa. A este priva<strong>do</strong> sucedeu um dia, an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> à caça,<br />

encontrar a um pobre homem enfermo <strong>do</strong>s pés, em traje humilde, pobre e<br />

abati<strong>do</strong>, o qual lhe rogou e pediu muito o quisesse man<strong>da</strong>r levar a sua casa<br />

para ser nela cura<strong>do</strong>, porventura ain<strong>da</strong> lhe poderia servir de alguma utili<strong>da</strong>de; e<br />

Beluac, Lib. 16. cap. 4&5.

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