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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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884 Padre Mateus Ribeiro<br />

Despediu logo Roberto a Bolonha um cria<strong>do</strong> confidente com as chaves<br />

para que trouxesse as mais ricas galas e preciosas jóias que Lívia tinha, pois<br />

havia de ser madrinha <strong>da</strong>s bo<strong>da</strong>s de Florisela, enquanto se esperava a<br />

chega<strong>da</strong> de Feliciano, que nestes dias to<strong>do</strong> o seu divertimento era em man<strong>da</strong>r<br />

preparar custosas librés para os cria<strong>do</strong>s, galas para ele e jóias ricas para sua<br />

esposa: a tu<strong>do</strong> <strong>da</strong>va lugar sua riqueza e seu amor, e como este franqueava os<br />

dispêndios que fazia, nunca poderiam ser pequenos quan<strong>do</strong> era o amor tão<br />

grande. Põe o amor os pesos à balança <strong>da</strong> vontade e tu<strong>do</strong> faz medir ao maior<br />

peso, que como a riqueza igualava com o querer e com a liberali<strong>da</strong>de de<br />

Feliciano, em tu<strong>do</strong> queria mostrar que eram suas bo<strong>da</strong>s generosas, assi como<br />

o era seu querer. Tinha muitos parentes e amigos em Cesena, e to<strong>do</strong>s se<br />

preparavam de gala para esse dia, porque aplaudiam to<strong>do</strong>s o verem entre<br />

estas opostas famílias essas nupciais pazes confirma<strong>da</strong>s.<br />

Entre tantos contentes que em Cesena esperavam estes tão deseja<strong>do</strong>s<br />

desposórios, só Silvério Albertino era o descontente e o pesaroso de ver que<br />

com tantos anos de amante ficavam tão frustra<strong>do</strong>s seus desejos, levan<strong>do</strong><br />

Feliciano por mais felice e poderoso, o que ele julgava que merecia pelo antigo<br />

<strong>da</strong> pretensão e pelo incessável <strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong>. Apurava sua mágoa a paciência,<br />

parecen<strong>do</strong>-lhe insofrível a mu<strong>da</strong>nça de Florisela, que de antes se mostrava tão<br />

contente, a palavra quebra<strong>da</strong> que Ricar<strong>da</strong>, minha mãe, havia <strong>da</strong><strong>do</strong> à sua em<br />

minha ausência. Queixava-se de mi que havia si<strong>do</strong> verdugo de to<strong>da</strong> sua<br />

alegria, precipício de suas esperanças e rigoroso encontro de sua ventura. Era<br />

tão onerosa a pena que sentia, que não queren<strong>do</strong> achar-se presente à vin<strong>da</strong> de<br />

Feliciano, nem ao festivo de seu casamento, se retirou para uma quinta seis<br />

léguas distante de Cesena, em que vivia um seu grande amigo que se<br />

chamava Valério, pessoa <strong>do</strong>uta e que depois de várias experiências com que a<br />

fortuna o tinha persegui<strong>do</strong>, se retirou a viver com sua família no remanso desta<br />

quinta, herança que de seus pais lhe ficara, fazen<strong>do</strong> nela tranquilo empório às<br />

navegações turbulentas com que o mun<strong>do</strong> o trouxe inquieto largo tempo. Era<br />

Valério de cinquenta anos de i<strong>da</strong>de, parte <strong>do</strong>s quais despendeu nos estu<strong>do</strong>s e<br />

outros na milícia, com sucessos já prósperos, já adversos; até que o<br />

desenganou o tempo <strong>da</strong> inquietação de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, e com mulher e filhos<br />

fez assento nesta quinta retira<strong>da</strong> em que vivia, que era de saudáveis ares,<br />

ren<strong>do</strong>sa nos frutos e amena no sítio.

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