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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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O <strong>caso</strong> Mateus Ribeiro 63<br />

antíteses, citações e alusões eruditas e retóricas" 110 . Acentuan<strong>do</strong> a sua<br />

vertente recreativa, Palma Ferreira afirma também que, apesar de os temas<br />

principais serem de ín<strong>do</strong>le profana, as suas novelas são "obras eiva<strong>da</strong>s de<br />

comentários de pen<strong>do</strong>r moralizante que reflectem o intuito <strong>do</strong> exemplo cristão"<br />

111 . Sen<strong>do</strong> assim, não desprezan<strong>do</strong> inteiramente o propósito edificante que a<br />

sua obra mais conheci<strong>da</strong> manifesta, este crítico não releva no entanto o<br />

carácter exemplar que subjaz a esta obra, fornecen<strong>do</strong> um modelo de conduta<br />

moral e social para os seus leitores.<br />

Debruçan<strong>do</strong>-se sobre a novela breve portuguesa de Seiscentos, Anabela<br />

Mimoso propôs a classificação de Alívio de tristes como uma "'novela de<br />

peregrinação', <strong>da</strong><strong>do</strong> que as suas personagens, para esquecer ou para se<br />

reabilitarem <strong>do</strong> passa<strong>do</strong>, fogem <strong>do</strong> convívio com os seus pares, deambulam<br />

por montes e vales, isolam-se em agrestes fragas" 112 . Contu<strong>do</strong>, se a<br />

peregrinação <strong>do</strong> Ermitão Felisberto e <strong>do</strong> Peregrino Dionísio se apresenta como<br />

marco narrativo que une as novelas encaixa<strong>da</strong>s na narrativa de primeiro nível,<br />

não é menos ver<strong>da</strong>de que o aspecto mais foca<strong>do</strong> durante a longa jorna<strong>da</strong> que<br />

os protagonista empreendem acaba por ser o valor <strong>da</strong> discreta conversação<br />

que proporciona o alívio <strong>do</strong>s tristes e a consolação <strong>do</strong>s queixosos que com<br />

estes se cruzam. A peregrinação, ou as várias peregrinações que as<br />

personagens realizam, não se reveste de qualquer valor alegórico, nem se<br />

apresenta como meio de purificação espiritual ou de depuração pelos delitos<br />

cometi<strong>do</strong>s, grande parte deles de forma involuntária ou em legítima defesa. De<br />

resto, a sua justificação prende-se nalgumas ocasiões com a simples<br />

curiosi<strong>da</strong>de que os leva a visitar os lugares sagra<strong>do</strong>s ou com o cumprimento de<br />

promessas <strong>da</strong>queles que anteriormente se viram na situação de cativos ou de<br />

aflitos.<br />

Mais recentemente, Sara Augusto, conceden<strong>do</strong> maior atenção à<br />

novelística de Mateus Ribeiro, aponta nestas narrativas de entretenimento um<br />

110 João Palma FERREIRA, Novelistas e Contistas Portugueses <strong>do</strong>s Séculos XVII e XVIII,<br />

Lisboa, INCM, 1981,p.225.<br />

111 Ibidem, p.226.<br />

112 Anabela Brito Correia de Freitas MIMOSO, A Novela Breve Portuguesa <strong>do</strong> Século XVII,<br />

<strong>Porto</strong>, Facul<strong>da</strong>de de Letras <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong>de <strong>do</strong> <strong>Porto</strong>, 2005, p.39 (Dissertação de<br />

Doutoramento policopia<strong>da</strong>).

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