17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 539<br />

temerosos <strong>do</strong> que nós de seus acometimentos intimi<strong>da</strong><strong>do</strong>s, pois muitas vezes<br />

nos deixaram as armas por despojos.<br />

Lembra-me que um <strong>do</strong>s descui<strong>do</strong>s grandes que teve o empera<strong>do</strong>r<br />

Valente, quan<strong>do</strong> mal aconselha<strong>do</strong> consentiu aos go<strong>do</strong>s o habitarem junto às<br />

ribeiras <strong>do</strong> Danúbio, foi o não os despojar <strong>da</strong>s armas, pois podia fazê-lo; e de<br />

lhas deixar, ocasionou <strong>da</strong>rem depois ao império tantas rotas e trabalhos como<br />

deram. Que ao inimigo, quan<strong>do</strong> é inferior no parti<strong>do</strong>, se é generosi<strong>da</strong>de deixá-<br />

lo vivo, é imprudência manifesta o deixá-lo arma<strong>do</strong>. Eu de antes só professava<br />

letras, mas os perigos em que escapan<strong>do</strong> de ser preso me tenho visto, me tem<br />

feito e a meus irmãos e companheiros tão destros e atrevi<strong>do</strong>s que <strong>do</strong>s próprios<br />

riscos fazemos desprezo. Uma <strong>da</strong>s leis que Licurgo deu aos lacedemónios era<br />

que com um mesmo inimigo não batalhassem muitas vezes, por que o não<br />

viessem a fazer destro nas armas e destemi<strong>do</strong> nas ousadias. Donde veio a<br />

dizer Antacli<strong>da</strong>s Agesilau, rei de Esparta, sain<strong>do</strong> mal feri<strong>do</strong> de uma <strong>da</strong>s<br />

batalhas que deu aos tebanos, que ele tinha o prémio mereci<strong>do</strong> de haver<br />

ensina<strong>do</strong> aos de Tebas o exercício militar <strong>da</strong>s armas nas muitas vezes que<br />

lhes tinha movi<strong>do</strong> guerra, porque ou bem de uma vez os sujeitara, ou com eles<br />

pazes fizera.<br />

Esta é, senhor Constantino, a causa de meus inquietos desvelos, a vi<strong>da</strong><br />

que passo por ver se posso pôr a meu pai em liber<strong>da</strong>de, porque sinto eu mais<br />

seus discómo<strong>do</strong>s que meus trabalhos e me causa maior <strong>do</strong>r o vê-lo<br />

aprisiona<strong>do</strong> por meu respeito <strong>do</strong> que o an<strong>da</strong>r eu à morte ofereci<strong>do</strong>, por ver se<br />

posso livrá-lo. Quan<strong>do</strong> Bernar<strong>do</strong> dei Cárpio, sobrinho d'el-rei Dom Afonso, o<br />

Casto de Leão, filho de sua irmã Dona Ximena, viu preso a seu pai, o conde<br />

Dom Sancho Dias de Sal<strong>da</strong>nha, procuran<strong>do</strong> que el-rei o soltasse em prémio<br />

<strong>do</strong>s grandes serviços que lhe fazia e o não alcançan<strong>do</strong>, antes ven<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> dia a<br />

el-rei mais severo nos rigores, se partiu fora de seus reinos e lhe começou a<br />

fazer cruel guerra, para que a seu pai soltasse. Eu não sou súbdito <strong>do</strong> duque<br />

de Urbino; e ven<strong>do</strong> que por rogativas de grandes senhores e por meios <strong>do</strong><br />

favor não pude conseguir a meu pai a liber<strong>da</strong>de, me resolvi a fazer a suas<br />

terras os <strong>da</strong>nos que pudesse. Porque quan<strong>do</strong> o fim não se alcance, ao menos<br />

farei o que podia; e se morrer na empresa, entenderá o mun<strong>do</strong> que obrei como<br />

filho que muito a seu pai amava e a quem tanto devia.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!