17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 715<br />

escaparmos <strong>da</strong> justiça, antes o julgo por impossível: porque de cinquenta<br />

companheiros que aqui estávamos, são já três mortos e outros feri<strong>do</strong>s.<br />

Bastimentos para nos sustentarmos já não os temos, nem esperanças <strong>do</strong>nde<br />

possam vir-nos, estan<strong>do</strong> nós em meio <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, toma<strong>do</strong>s os caminhos com<br />

trincheiras e fortins e inumerável gente de presídio que nos tem cerca<strong>do</strong>s e<br />

ca<strong>da</strong> hora crescem e nós diminuímos. Acabou-se a pólvora e gastaram-se as<br />

balas: não há já com que acudir nem ao sustento, nem à defensa, nem aos<br />

reparos. Perdermos as vi<strong>da</strong>s sem fruto é <strong>do</strong>brar o sentimento, quan<strong>do</strong> nem<br />

podemos reparar as vi<strong>da</strong>s, nem vingar as mortes. Estas aqui são indubitáveis e<br />

<strong>da</strong>s mãos <strong>da</strong> justiça contingentes. E sempre qualquer espaço que se dá à vi<strong>da</strong><br />

vem a ser de muita estimação. Por poucas horas que se dilatou a morte <strong>do</strong><br />

cônsul Caio Mário na tenebrosa lapa de Minturnas, se viu não só livre <strong>da</strong>s<br />

garras <strong>da</strong> morte, mas de novo a Septímio no consula<strong>do</strong> romano entroniza<strong>do</strong>.<br />

Por breve espaço que se dilatou a morte d'el-rei Cresso de Lídia, se viu de Ciro<br />

per<strong>do</strong>a<strong>do</strong> e livre dela. Dar vagares à execução é <strong>da</strong>r lugar à pie<strong>da</strong>de, que isso<br />

dizia Euripides, que muitas vezes na dilação consiste o remédio <strong>do</strong>s males.<br />

Com a dilação que Temístocles Ateniense pôs em Esparta, in<strong>do</strong> por<br />

embaixa<strong>do</strong>r de Atenas aos lacedemónios sobre eles impedirem o fazerem-se<br />

de novo os muros de Atenas que eles lhe tinham arrasa<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> hostilmente<br />

a entraram, deu lugar aos vários rodeios e demoras <strong>da</strong>s propostas de sua<br />

embaixa<strong>da</strong> com que entretanto os muros de sua pátria se acabassem e<br />

ficassem capazes para defender-se. Com dilação se sazoam os frutos, disse<br />

Ovídio 597 , quan<strong>do</strong> são verdes, fazen<strong>do</strong> que fiquem ao gosto suaves, sen<strong>do</strong> de<br />

antes desabri<strong>do</strong>s.<br />

É a dilação, diz Séneca 598 , o melhor freio <strong>da</strong> ira: aplaca o incêndio mais<br />

eficaz o meter-se tempo em meio <strong>da</strong> vingança. Nos termos <strong>da</strong> justiça ouve-se<br />

os direitos <strong>do</strong>s réus: nem se condena sem prova, nem sem razão se castiga.<br />

Dá o tempo lugar à defesa, põe intervalos à vingança e esperas ao castigo.<br />

Uma hora de vi<strong>da</strong> não é cara, ain<strong>da</strong> que se comprasse ao maior preço. Lá<br />

disse Diógenes 599 que o viver tinha tanto em si de bem, quanto tinha o mal<br />

Ovid., De remed. lib. 1.<br />

Senec, Lib. 2. De ira.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!