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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 523<br />

breve tempo sua privança, sen<strong>do</strong> seu maior vali<strong>do</strong>, busca<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s pelo<br />

valimento e por ele mesmo inveja<strong>do</strong> de muitos. Rara pensão <strong>do</strong>s vali<strong>do</strong>s, que<br />

os mesmos que os buscam para o favor, os aborreçam pela privança.<br />

Havia na corte de Urbino uma ilustre <strong>do</strong>nzela que se chamava Jacinta,<br />

filha de ilustres e ricos pais e única herdeira de quanto possuíam, por não<br />

terem mais filhos. Era Jacinta a pedra preciosa <strong>da</strong> beleza, com quem<br />

compara<strong>da</strong>s as jacintas mais ricas, fican<strong>do</strong> na estimação de seu luzimento<br />

pobres, perdiam o valor que de antes tinham. Desvelava-se a aurora em<br />

madrugar para vê-la, apressava o sol a veloci<strong>da</strong>de de seu brilhante carro para<br />

admirá-la, e com em ca<strong>da</strong> manhã vê-la, sempre se retirava admira<strong>do</strong>. Porque<br />

tinha a vista de Jacinta privilégios para sempre causar admirações, sem as<br />

repetições de vista a privarem <strong>do</strong> privilégio de ser admira<strong>da</strong>. Queixava-se a<br />

noite de não vê-la. Mas quan<strong>do</strong> podia a noite ver ao sol? E ain<strong>da</strong> que<br />

intentasse usurpar algum espaço ao dia, em aparecen<strong>do</strong> Jacinta já não havia<br />

noite.<br />

Direis, senhores, que encareço um impossível. Nunca o possível foi<br />

cabal assunto <strong>do</strong> encarecimento. Sen<strong>do</strong> tal a fermosura de Jacinta que mal se<br />

pode explicar em encarecimentos, e podia queixar-se de agrava<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong><br />

parece estar mais encareci<strong>da</strong>. A i<strong>da</strong>de mal chegava aos vinte anos, que na<br />

fermosura é o flori<strong>do</strong> <strong>da</strong> i<strong>da</strong>de. Se o ouro nas minas se perdera, só em seus<br />

cabelos restaurar-se pudera, que como lograva tantos privilégios <strong>do</strong> sol, nunca<br />

podia faltar em seus cabelos o ouro. Os montes Riseus pouca neve encerram<br />

se se comparam com seu rosto. Porque quan<strong>do</strong> aparecem mais neva<strong>do</strong>s, na<br />

presença de Jacinta ficariam escuros. Pois se a neve com o sol se derrete, só<br />

em Jacinta há sol que resplandece e neve que dura. Competiu a púrpura<br />

emulações com os can<strong>do</strong>res e ficou em seu rosto a competência sem decidir-<br />

se. Porque os alvores purpurizavam e a púrpura nevava tanto que, suspensos<br />

os olhos que a viam, não determinavam se vencia a rosa ou açucena. Seus<br />

olhos tinham tanto de negros como de belos, toman<strong>do</strong> <strong>da</strong> Etiópia juntamente a<br />

cor e as setas, para rebuça<strong>do</strong>s com o escuro <strong>da</strong> cor não errarem o tiro, que se<br />

ao claro talvez se escu<strong>da</strong>m os golpes, no escuro ninguém se acautela <strong>da</strong>s<br />

feri<strong>da</strong>s. Era a boca alcaide de rubi que em cárcere breve aprisionava muitos<br />

diamantes, não poderosa só quan<strong>do</strong> falava, mas igualmente poderosa se se<br />

ria, porque ou falan<strong>do</strong> de veras ou de burlas era o triunfo <strong>do</strong>s corações e o

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