17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

340 Padre Mateus Ribeiro<br />

pobres que de esmolas <strong>do</strong> povo se lhes celebraram as exéquias, competin<strong>do</strong> a<br />

fama e a pobreza qual neles era maior. Riquíssimo nasceu por património o<br />

insigne filósofo Anaxágoras e só para se aplicar à Filosofia e às ciências se<br />

despojou de tu<strong>do</strong> e se fez pobre.<br />

Pois se nem a humil<strong>da</strong>de <strong>do</strong> nascimento, nem a pobreza grande<br />

impediram a tantos e tão insignes varões, nem as ciências, nem os aplausos<br />

<strong>da</strong> fama, nem as digni<strong>da</strong>des maiores antes <strong>da</strong> maneira que a palma quanto<br />

mais peso lhe põe em cima, tanto mais direita sobe, sem jamais declinar <strong>do</strong><br />

caminho que leva a querer investigar os raios <strong>do</strong> sol que em suas folhas<br />

retrata, e por essa razão é insígnia triunfal <strong>do</strong>s vence<strong>do</strong>res; como vós quereis,<br />

com os títulos <strong>da</strong> humil<strong>da</strong>de com que nascestes e <strong>da</strong> pobreza com que viveis,<br />

desculpar um desacerto tão grande, como depois de tantos anos de estu<strong>do</strong>s e<br />

desvelos voltar ao rústico de tal vi<strong>da</strong> de que fugistes menino, para a tornar a<br />

exercitar quan<strong>do</strong> sois homem? Mu<strong>da</strong>nças para não serem culpáveis hão-de ser<br />

<strong>do</strong> bom para o melhor, <strong>do</strong> pouco para o muito, <strong>do</strong> menos para o mais; mas<br />

nesta vossa, tu<strong>do</strong> pelo contrário. Quereis malograr os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, fazer<br />

desperdício <strong>do</strong>s desvelos, fechar as portas à ventura, cortar a ponte às<br />

esperanças e quan<strong>do</strong> as asas começavam a nascer-vos, tirar-lhes as penas<br />

para que nunca saibam remontar-se? Queixais-vos de ser inveja<strong>do</strong>? Esse ha­<br />

de ser o primeiro favor que devais a vosso merecimento. Um <strong>do</strong>s conselhos<br />

que <strong>da</strong>va Pitaco, um <strong>do</strong>s sete sábios de Grécia era que to<strong>do</strong>s fizessem muito<br />

por serem inveja<strong>do</strong>s; porque era o tributo que costuma pagar o mun<strong>do</strong> aos<br />

beneméritos. Quem carece de inveja<strong>do</strong>, carece <strong>da</strong> Victoria de ser a outros<br />

preferi<strong>do</strong>. Porque, como disse Plínio 339 , sempre a inveja é <strong>do</strong>s inferiores no<br />

motivo <strong>da</strong> inveja, que até o grande Alexandre invejou a Aquiles a eloquente<br />

suavi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> lira poética de Homero para cantar suas proezas, como refere<br />

Quinto Cúrcio 340 . Invejas há que não ofendem ao inveja<strong>do</strong>, porque são só<br />

castigo invejoso, como lhe chama Ovídio 341 ; e assim pouco tendes que queixar-<br />

vos de quem a si próprio se ofende. Dizeis que vos abatem com o escuro <strong>do</strong><br />

carvão? Bem o podeis vós <strong>do</strong>urar com o ouro <strong>da</strong> sabe<strong>do</strong>ria, que como ela de si<br />

Quint. Curt., Lib. 2.<br />

Ovid., Metamor. 2.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!