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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte II 283<br />

Roma era Valeriano e, sen<strong>do</strong> venci<strong>do</strong> de Sapor, rei de Pérsia, o afrontou de<br />

sorte que debruça<strong>do</strong> em terra fazia a ele escabelo em que punha os pés<br />

quan<strong>do</strong> cavalgava. A mesma fortuna correu e o mesmo ludíbrio o grão turco<br />

Baiaceto com grão Thamorlão sen<strong>do</strong> ele venci<strong>do</strong>, sem ser bastante a nenhum<br />

deles seu poder para de semelhantes opróbrios isentá-los. Que importou aos<br />

romanos Átalo tomar as insígnias imperiais por ordem de Ataulfo, rei <strong>do</strong>s<br />

go<strong>do</strong>s, em ódio <strong>do</strong> empera<strong>do</strong>r Honório, se depois preso em Espanha e envia<strong>do</strong><br />

ao empera<strong>do</strong>r Constâncio em Ravena lhe man<strong>do</strong>u cortar as mãos e leva<strong>do</strong><br />

ata<strong>do</strong> com cadeias pelas ci<strong>da</strong>des <strong>do</strong> império a Constantinopla, aonde à vista<br />

<strong>do</strong>s que o viram cora<strong>do</strong> foi ludibrioso espectáculo <strong>da</strong> fortuna enquanto lhe<br />

durou a vi<strong>da</strong>? Não consistin<strong>do</strong> logo na eminência <strong>do</strong> poder o isentar-se de<br />

poder ser afronta<strong>do</strong>, resta mostrar como <strong>do</strong> agravo que recebestes estais<br />

cabalmente satisfeito e para com os pun<strong>do</strong>nores <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> desagrava<strong>do</strong>.<br />

Ofendeu-vos um mascara<strong>do</strong> desconheci<strong>do</strong> e arrancan<strong>do</strong> a espa<strong>da</strong><br />

matastes três, bem lavastes com seu sangue as manchas de vossa honra e<br />

satisfizestes com suas mortes na própria praça o labéu de vossa injúria: se foi<br />

Nápoles teatro <strong>da</strong> ofensa também o ficou sen<strong>do</strong> <strong>da</strong> vingança. Consiste a honra<br />

popular e política na estimação; também esse é o juiz <strong>do</strong> desagravo: quem foi<br />

testemunha <strong>do</strong> atrevimento também o ficou sen<strong>do</strong> <strong>do</strong> castigo. Não é pouco<br />

favor <strong>da</strong> ventura conseguir um desagravo na presença de quem viu o delito.<br />

Muitos quiseram vingar-se que não puderam satisfazer-se, ou porque os não<br />

acompanhou o valor, que se o coração se retira pouco importa que avancem os<br />

desejos, ou porque a violência de maior poder no contrário preveni<strong>do</strong> lhe<br />

atalhou os passos na ocasião e esta uma vez perdi<strong>da</strong> nem sempre, nem com<br />

facili<strong>da</strong>de, se cobra. Tem tantos desvios, diz Tito Lívio 304 , qualquer acção que<br />

emprendemos, que o mais <strong>do</strong> que intentamos fica sen<strong>do</strong> menos o que<br />

conseguimos; o emprender consiste no valor, o efectuar na ventura. Vós não<br />

tendes de que queixar-vos, pois valerosamente vos empenhastes e felizmente<br />

o desagravo conseguistes.<br />

No que dizeis que por ordem de Raimun<strong>do</strong>, primo <strong>do</strong> conde morto, foi<br />

solicita<strong>do</strong> o agravo, são juízos de opinião particular que a to<strong>do</strong>s não é<br />

manifesta, que bem poderiam enganar-vos, pois vós assim como não fostes o<br />

Tit. Liv., Lib. 3. Dec. 1.

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