17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 663<br />

<strong>do</strong> metal, em nenhuma parte corre. Por muito que Sultão Ali mereça na opinião<br />

<strong>do</strong>s outros, se nos olhos de Zelin<strong>da</strong> não são seus merecimentos aceitos, pouco<br />

lhe aproveitará, para ser premia<strong>do</strong>, o ser <strong>do</strong> vulgo seu valor e juízo aplaudi<strong>do</strong>.<br />

Pois se nesta empresa que Sultão Ali tão empenha<strong>do</strong> segue o não apadrinha o<br />

amor, nem favorece a ventura, frustra<strong>do</strong>s são os desvelos e infrutuosas as<br />

finezas para render a uma vontade tão senhora de seu próprio querer. Põe,<br />

senhor, em balança a vi<strong>da</strong> de tua filha com esse desejo que mostras de<br />

contentares ao vali<strong>do</strong> de Amurathes, e verás que tens mais obrigação de<br />

conservares a vi<strong>da</strong> a tua filha, pois lhe queres tanto, <strong>do</strong> que satisfazeres ao<br />

gosto de quem amas menos. Serve muitas vezes a porfia rigorosa de ser<br />

verdugo <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, e não se deve apurar o fino <strong>do</strong> sofrimento de sorte que se<br />

converta em desesperação o intolerável <strong>do</strong> aperto. Os infortúnios, se não se<br />

evitam com a prudência, não se remedeiam depois com a mágoa. Mais<br />

desengana<strong>do</strong> amor e ver<strong>da</strong>deiro hás-de achar sempre em tua filha que nos<br />

estranhos. E se eles pretendem que lhes faças o gosto no que desejam, mais<br />

conveniente parece que o faças a tua filha no que com lágrimas te pede.<br />

Muitas vezes se esconde o perigo no que parece proveitoso, e por não se<br />

moderar a importunação <strong>do</strong> que é odioso, se vem depois a lamentar o que é<br />

irremediável no sentimento. É a mulher mais digna de compaixão que de<br />

rigores: desigual conten<strong>da</strong> parece sair a desafio com seus olhos, pois são<br />

armas de vantagem suas lágrimas para tuas porfias. Casá-la contra seu gosto<br />

será sepultá-la em vi<strong>da</strong>; porque vi<strong>da</strong> com desgosto impropriamente tem título<br />

de vi<strong>da</strong>. Se a podes ter discretamente obriga<strong>da</strong>, para que procuras que sempre<br />

de ti viva queixosa? E que se mostre sempre no desgosto ofendi<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> a<br />

tens experimenta<strong>da</strong> no mais tão obediente e amorosa?<br />

Sultão Ali em amá-la pouco merece; pois amar a fermosura não é fineza<br />

que obrigue, pois se carecera de beleza, bem se pode inferir que a não amara.<br />

Alegar dívi<strong>da</strong>s nos próprios interesses, ou é descrédito <strong>da</strong> obra, ou ambição <strong>do</strong><br />

desejo. Tanto costuma ter o amor de fino, quanto tem de desinteressa<strong>do</strong>: e<br />

pedir prémios <strong>do</strong> que não são serviços, mais parece devaneio que justiça; pois<br />

se o obriga a amar seu próprio gosto, nem se lhe deve o amor, nem o cui<strong>da</strong><strong>do</strong>.<br />

Se Zelin<strong>da</strong> está resoluta em não aceitar este esposo, não te convém,<br />

Zulema, chegares ao último <strong>da</strong> experiência, arriscan<strong>do</strong> muito e interessan<strong>do</strong><br />

pouco, pois to<strong>da</strong>s as grandezas que pudestes alcançar, perden<strong>do</strong> a tua filha,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!