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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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12 A novela portuguesa no século XVII:<br />

Prosseguin<strong>do</strong> a sua busca por terras de Espanha, junto às montanhas de<br />

Serra Morena, Dionísio encontra a chorosa Eugenia, <strong>do</strong>nzela seduzi<strong>da</strong> pelas<br />

promessas de Roberto e posteriormente aban<strong>do</strong>na<strong>da</strong> no meio <strong>da</strong> floresta. De<br />

acor<strong>do</strong> com a função edificante desta novela, a descortesia e o desrespeito de<br />

Roberto acabaram fortemente castiga<strong>do</strong>s, acaban<strong>do</strong> o falso amante morto por<br />

saltea<strong>do</strong>res.<br />

Deixan<strong>do</strong> Eugenia num convento de Grana<strong>da</strong>, Dionísio continuou a<br />

percorrer Espanha e, voltan<strong>do</strong> para Itália, decidiu fazer uma peregrinação ao<br />

templo de S. Miguel, encontran<strong>do</strong> então o Ermitão, responsável pelo completo<br />

alívio <strong>do</strong> seu sofrimento, receben<strong>do</strong>-o na sua ermi<strong>da</strong>:<br />

"Aonde por ora os deixaremos descansar <strong>do</strong> caminho, até que outros diálogos e<br />

vários sucessos, assim <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> Ermitão como <strong>do</strong>s ofensores <strong>do</strong> Peregrino, nos<br />

dem matéria à segun<strong>da</strong> parte desta obra que prometo, sen<strong>do</strong> esta aceita com a<br />

benevolência que espero e a vontade de aproveitar e servir a to<strong>do</strong>s merece." 22<br />

De regresso ao tempo narrativo <strong>da</strong> diegese, tal como fora anuncia<strong>do</strong> no<br />

final <strong>da</strong> primeira parte, a pedi<strong>do</strong> <strong>do</strong> Peregrino, o Ermitão procede à narração<br />

<strong>do</strong>s trágicos sucessos que o conduziram ao retiro na ermi<strong>da</strong> 23 .<br />

Felisberto começa por narrar o indecoroso rapto de Lucin<strong>da</strong>, sua irmã, a<br />

man<strong>do</strong> de Juliano, mancebo espanhol que não tolerou o rigoroso desengano<br />

desta discreta <strong>do</strong>nzela que havia anteriormente despedi<strong>do</strong> vários pretendentes<br />

por desejar dedicar-se ao Esposo <strong>da</strong>s Almas. Juliano, não conseguin<strong>do</strong> vencer<br />

com os desvelos amorosos a firme resolução de Lucin<strong>da</strong>, determinou organizar<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.218.<br />

3 A narração de Felisberto, em resposta ao favor que o Peregrino lhe fizera, segue uma<br />

estrutura paralela à de Dionísio: "Assim entre queixoso e diverti<strong>do</strong>, crepúsculos entre a noite <strong>do</strong><br />

sentimento e o dia <strong>do</strong> alívio, entrecadências entre as tempestades <strong>do</strong> agravo e as bonanças <strong>do</strong><br />

alívio, férias entre o estu<strong>do</strong> <strong>da</strong> <strong>do</strong>r e o ócio <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, passava o nosso forasteiro, quan<strong>do</strong> um dia<br />

que entre outros viu ao Ermitão mais livre de ocupações de passageiros que o buscavam ain<strong>da</strong><br />

na sole<strong>da</strong>de em que vivia, lhe pediu encareci<strong>da</strong>mente quisesse satisfazer-lhe a promessa de<br />

lhe contar os discursos de sua vi<strong>da</strong>. O Ermitão, que pela promessa se via obriga<strong>do</strong> e pela<br />

amizade empenha<strong>do</strong> a satisfazer-lhe o desejo, assentan<strong>do</strong>-se com ele sobre a relva de um<br />

ameno pra<strong>do</strong>, a quem formavam pavelhão os frescos ramos de um copa<strong>do</strong> freixo, deu princípio<br />

aos perío<strong>do</strong>s de sua vi<strong>da</strong>, dizen<strong>do</strong>'' Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de<br />

queixosos, Parte II, pp.219-20.

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