17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 223<br />

seguiu as armas, refúgio de que se valem os pobres bem nasci<strong>do</strong>s, e<br />

ultimamente ao vice-rei de Nápoles, que por parente e destemi<strong>do</strong> sol<strong>da</strong><strong>do</strong> o fez<br />

capitão de uma <strong>da</strong>s galés que o reino tem de sua guar<strong>da</strong> e serviço de seu<br />

monarca, que então era o invencível empera<strong>do</strong>r Carlos Quinto. Era este Juliano<br />

o que maiores instâncias fez para alcançar a minha irmã por esposa, valen<strong>do</strong>-<br />

se <strong>do</strong> próprio vice-rei para que a meu pai falasse, acreditan<strong>do</strong> a Juliano por seu<br />

parente, cousa que aos grandes custa pouco e talvez aproveita muito; porém<br />

meu pai conhecen<strong>do</strong> de Lucin<strong>da</strong> que to<strong>do</strong>s os casamento despedia pela firme<br />

tenção que tinha de ser religiosa; e porque com esta desculpa a tinha nega<strong>do</strong> a<br />

outras pertensões de pessoas bem ilustres e naturais que por esposa lha<br />

pediram, aos quais ficava agravan<strong>do</strong>, deven<strong>do</strong> juntamente ressentir-se quan<strong>do</strong><br />

com o espanhol a casasse, que preferências mal se sofrem no que muito se<br />

deseja, se desculpou com o vice-rei, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe por escusa o firme intento que<br />

Lucin<strong>da</strong> tinha em dedicar-se ao Esposo <strong>da</strong>s almas. Satisfeito ficou o vice-rei <strong>da</strong><br />

desculpa, que como conhecia a melhora <strong>da</strong> eleição e o avanteja<strong>do</strong> <strong>do</strong> acerto,<br />

louvan<strong>do</strong> o juízo ser igual à fama <strong>da</strong> fermosura que Nápoles aplaudia.<br />

Cap. II.<br />

Em que prossegue o Ermitão sua história<br />

Violento remédio é um desengano para curar a um hidrópico de<br />

esperanças, e mais quan<strong>do</strong> estas são causa<strong>da</strong>s <strong>do</strong> amor: passar de um<br />

extremo a outro sempre foi perigoso. Não há causa que mais atormente, que é<br />

uma esperança perdi<strong>da</strong>, disse Quintiliano 291 , porque à desesperação se segue<br />

a temeri<strong>da</strong>de. Beber de um trago amargura de um desengano na enfermi<strong>da</strong>de<br />

de um desejo é veneno de sofrimento que, se não tira ávi<strong>da</strong>, deixa delírios na<br />

razão. Bem se viu este efeito em Juliano que, desengana<strong>do</strong> de conseguir o<br />

casamento de Lucin<strong>da</strong>, intentou a temeri<strong>da</strong>de maior que pudera emprender a<br />

ousadia em ânimo desespera<strong>do</strong>, queren<strong>do</strong> vencer com violência o que não<br />

alcançou o valimento <strong>do</strong> poder, o desvelo <strong>do</strong> amor e o eloquente <strong>da</strong> cortesia.<br />

Quintil., Declam. 12.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!