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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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158 Padre Mateus Ribeiro<br />

oran<strong>do</strong> lhe apareceu um ancião veneran<strong>do</strong>, o qual lhe perguntou se ficava por<br />

fia<strong>do</strong>r de aquele pobre homem, ven<strong>do</strong> se em melhora<strong>da</strong> fortuna perseveraria<br />

nas obras de cari<strong>da</strong>de que então exercitava; e responden<strong>do</strong> o abade Daniel<br />

que sim, desapareceu a visão.<br />

Passa<strong>do</strong>s que foram alguns dias, an<strong>da</strong>n<strong>do</strong> este cari<strong>do</strong>so homem<br />

ocupa<strong>do</strong> conforme seu ofício em umas pedreiras, queren<strong>do</strong> delas tirar uma<br />

pedra grande, descobriu debaixo dela um rico tesouro que ali oculto estava, o<br />

qual sem que alguém o visse recolheu com muita alegria; porém desvelan<strong>do</strong>-o<br />

os receios de que não chegasse a notícia dele por alguma via ao senhor <strong>da</strong><br />

terra e quisesse tomá-lo, se embarcou com ele secretamente para<br />

Constantinopla, levan<strong>do</strong> sua família, aonde por meio e inteligência <strong>da</strong>s suas<br />

grandes riquezas e jóias, chegou a ter privança com o empera<strong>do</strong>r Justino, que<br />

então imperava, que em pouco tempo o fez ve<strong>do</strong>r <strong>do</strong> paço e superintendente<br />

de muita parte <strong>do</strong> governo.<br />

Ven<strong>do</strong>-se ele levanta<strong>do</strong> a tão grande esta<strong>do</strong> e privança, pôs em<br />

esquecimento sua antiga hospitali<strong>da</strong>de e obras cari<strong>do</strong>sas, entregan<strong>do</strong>-se to<strong>do</strong><br />

a razões de esta<strong>do</strong>, às privanças <strong>do</strong> monarca e lisonjas <strong>da</strong> corte em que<br />

assistia. As novas desta mu<strong>da</strong>nça de vi<strong>da</strong> e costumes chegaram ao abade<br />

Daniel, o qual como fia<strong>do</strong>r, ven<strong>do</strong>-se obriga<strong>do</strong> a <strong>da</strong>r conta de sua vi<strong>da</strong>, mui<br />

pesaroso de considerar tão repentina mu<strong>da</strong>nça, se partiu para Constantinopla<br />

com intento de falar-lhe e repreendê-lo; porém foi <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s que lhe assistiam<br />

impedi<strong>do</strong>, e não somente desacata<strong>do</strong> de palavras, porém ain<strong>da</strong> mal trata<strong>do</strong> de<br />

obras se partiu outra vez sem lhe aproveitar cousa alguma sua peregrinação.<br />

Assim aflito e triste se pôs em oração diante <strong>da</strong> devota imagem de Cristo<br />

crucifica<strong>do</strong>, pedin<strong>do</strong>-lhe houvesse por bem livrá-lo <strong>da</strong> fiança a que se obrigara<br />

por Eulógio (que assim se chamava este priva<strong>do</strong>), e toman<strong>do</strong> a Virgem<br />

sacratíssima por sua advoga<strong>da</strong> e medianeira.<br />

Chegan<strong>do</strong> a Alexandria lhe apareceu Cristo redentor nosso e disse que<br />

ele o livraria <strong>da</strong> fiança que fizera, e que <strong>da</strong>í em diante se acautelasse de se não<br />

obrigar a outra. Sucedeu, continuan<strong>do</strong> o tempo, morrer o empera<strong>do</strong>r Justino, e<br />

suceden<strong>do</strong>-lhe <strong>do</strong> império seu filho Justiniano, o qual não era afeiçoa<strong>do</strong> a<br />

Eulógio, antes contrário, o depôs logo <strong>do</strong> cargo e administração que tinha,<br />

man<strong>da</strong>n<strong>do</strong> dele sindicar com muito rigor: achou-se culpa<strong>do</strong> em muitas faltas e<br />

erros de sua administração, pelo que lhe foram confisca<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s os seus bens

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