17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

458 Padre Mateus Ribeiro<br />

Anar<strong>da</strong>, tu<strong>do</strong> desmaiava por inferior na beleza, na<strong>da</strong> presumia competências<br />

na fermosura. Era Fénix de França, não de Arábia, que se a ver<strong>da</strong>de não se<br />

livra de escrúpulos em querer que esta seja singular, sem exagerações se<br />

pudera afirmar que Anar<strong>da</strong> era única em França. Seria a i<strong>da</strong>de de vinte e cinco<br />

anos, se porventura se atrevem anos à beleza; porque como o sol é superior<br />

ao tempo, não se contan<strong>do</strong> os anos em seus raios, assim em o sol de Anar<strong>da</strong><br />

parece que perdia sua jurisdição o tempo. Tem França por armas as flores de<br />

seus lírios, e com maior proprie<strong>da</strong>de pudera vangloriar-se <strong>da</strong>s rosas de seu<br />

rosto, ten<strong>do</strong> nelas não só armas para vencer, mas juntamente motivos<br />

poderosos para se envejar, se vence o mais belo com brandura <strong>do</strong> que o<br />

destemi<strong>do</strong> com valor. Conquistam-se as ci<strong>da</strong>des com as armas, mas os<br />

corações com a beleza: <strong>da</strong>s armas muitas vezes se defende quem resiste, mas<br />

<strong>da</strong> fermosura raras vezes resiste quem se rende. To<strong>da</strong>s as cousas à primeira<br />

vez vistas são só objectos <strong>da</strong> apreensão, mas a beleza, se é portentosa, é<br />

objecto próprio <strong>do</strong> espanto, persuadin<strong>do</strong> a julgar por maravilha o que nas<br />

outras cousas só se apreende como novi<strong>da</strong>de. Era órfã de pai e mãe, que<br />

depois de produzirem tal beleza, foi discrição o acabar, pois quem extremos<br />

obra, não tem mais que prometer.<br />

Era Anar<strong>da</strong> pobre, porque não quis a natureza dever os aplausos à<br />

fortuna, e quis que fosse só admira<strong>da</strong> pelos prodígios de fermosa e não pelos<br />

respeitos de rica, pois ficariam equívocas as venerações se fora poderosa<br />

entre o raro <strong>da</strong> beleza e o rico <strong>da</strong> estimação. Criou-se em casa de uma tia<br />

nobre no sangue e limita<strong>da</strong> nos bens; porém que maiores bens que ter consigo<br />

Anar<strong>da</strong>, se para to<strong>do</strong>s a vista de tal sobrinha ficava sen<strong>do</strong> o maior bem? Era<br />

tão recolhi<strong>da</strong> por honesta que o sol necessitava de valimento para vê-la e<br />

muitos dias se retirava senti<strong>do</strong> de ver-lhe desestimar seus resplan<strong>do</strong>res: que<br />

como ia aprender novas luzes de seus olhos, qualquer dia que perdia de vê-la<br />

avaliava por muitas faltas de ouvi-la, cui<strong>da</strong>n<strong>do</strong> que chegava a luzir menos<br />

quan<strong>do</strong> Anar<strong>da</strong> se ocultava mais.<br />

Descrevi brevemente qual era Anar<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> cheguei a Paris; mas<br />

como poderia eu cabalmente descrever a quem o exagera<strong>do</strong> <strong>da</strong> maior<br />

eloquência não se atreveu a definir? Entrei na universi<strong>da</strong>de e entre alguns<br />

amigos que adquiri por forasteiro foi um fi<strong>da</strong>lgo chama<strong>do</strong> Félis, quasi <strong>da</strong> minha<br />

i<strong>da</strong>de, natural de Paris, grandemente estudioso, a quem a profissão <strong>da</strong>s letras,

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!