17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

504 Padre Mateus Ribeiro<br />

ao religioso e a Lívia, se retirou a outra casa, onde largan<strong>do</strong> a corrente a suas<br />

lágrimas fez só a seus olhos testemunhas de sua <strong>do</strong>r.<br />

Foi Lívia a consolá-la: mas pouco alívio admite um coração tão<br />

repeti<strong>da</strong>mente magoa<strong>do</strong>. Man<strong>do</strong>u desfazer as ricas jóias de diamantes que<br />

trouxera, preparou o <strong>do</strong>te para sua entra<strong>da</strong> e sem admitir visitas nem<br />

persuasões que intentavam aconselhá-la, em um coche só com Lívia, e<br />

acompanha<strong>da</strong> em outros de Vespasiano e alguns senhores, não faltan<strong>do</strong><br />

Raimun<strong>do</strong> de <strong>da</strong>r esta última despedi<strong>da</strong> a seus olhos, pois lhe negava a<br />

ventura o logro de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, se recolheu em um convento, deixan<strong>do</strong><br />

escrita uma carta ao conde seu pai, que assim dizia:<br />

Nos erros de minha primeira eleição, por vossa senhoria tão<br />

reprova<strong>da</strong>, não acho melhor desculpa que a <strong>do</strong> esta<strong>do</strong> presente que hoje<br />

tomo: na primeira foi meu amor a guia e nesta meu juízo; de antes escolhi<br />

com a vontade e nesta com o discurso. Já despedi<strong>da</strong> <strong>do</strong>s enganos <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong>, nem vossa senhoria terá que sentir mágoas, nem eu penas; nem<br />

vossa senhoria iras que executar, nem eu temores que padecer. Foi a<br />

morte de Reginal<strong>do</strong> para vossa senhoria desafogo <strong>da</strong> <strong>do</strong>r, para ele crédito<br />

de amante e para mim lição de desengana<strong>da</strong>. À sua memória devo muito,<br />

e com despedir-me <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> não sei se ain<strong>da</strong> cabalmente lhe pago.<br />

Vossa senhoria veja a Carlos felizmente emprega<strong>do</strong>, pois tanto lamentou<br />

os empregos de Flora; que meu desejo será que alcance grandes<br />

venturas e vossa senhoria felices anos de vi<strong>da</strong> para lográ-las.<br />

Despediu-se Flora à portaria <strong>do</strong> convento com lágrimas de to<strong>do</strong>s, e<br />

principalmente de Raimun<strong>do</strong>, que viu esconder-se o sol para mais não vê-lo.<br />

Com o que to<strong>do</strong>s se tornaram sau<strong>do</strong>sos de sua vista, a quem a nuvem de um<br />

véu eclipsou os raios. Man<strong>do</strong>u Vespasiano a carta ao conde Manfre<strong>do</strong>, que a<br />

recebeu com suspensão, a leu com ânsias e a acabou com lágrimas, ou<br />

fossem de magoa<strong>do</strong> ou de sau<strong>do</strong>so. E este fim teve Reginal<strong>do</strong> e sua ama<strong>da</strong><br />

Flora, exemplo grande <strong>da</strong>s mu<strong>da</strong>nças <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>: nele corta<strong>da</strong> em flor e nela na<br />

lisonja <strong>do</strong>s anos escondi<strong>da</strong>.<br />

Com isto deu fim Eugénio à sua história, que de to<strong>do</strong>s foi celebra<strong>da</strong>,<br />

despenden<strong>do</strong> muita parte <strong>da</strong> noite em discutir sobre seus perío<strong>do</strong>s. Preparou-

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!