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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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376 Padre Mateus Ribeiro<br />

próprio enganoso amante castiga<strong>da</strong> te viste, que como te ia seguin<strong>do</strong> tua<br />

própria culpa, também ia em teu seguimento a mereci<strong>da</strong> pena. Não te dei eu<br />

porque nem tivesses essa penosa consolação de haveres pago a quem devias,<br />

senão que te acompanhasse a mágoa de te executar como acre<strong>do</strong>r (a) quem te<br />

devia mais, porque na tirania de injustamente executa<strong>da</strong>, <strong>do</strong>brasses o<br />

sentimento de te veres tão ingratamente persegui<strong>da</strong>, que ain<strong>da</strong> nas mesmas<br />

penas pode haver ventura, se nas próprias venturas pode haver desgraça.<br />

Assim em estes e semelhantes discursos passou a penosa noite o<br />

lastima<strong>do</strong> Peregrino, até que com os primeiros anúncios <strong>da</strong> vizinhança <strong>da</strong><br />

aurora, despertan<strong>do</strong> a Rogério e ao Ermitão, despedin<strong>do</strong>-se deles com<br />

palavras mui comedi<strong>da</strong>s, lhe foram ensinar o caminho que havia de seguir para<br />

subir ao monte. E voltan<strong>do</strong> o Ermitão e Dionísio, caminharam para o lugar de<br />

São Victor, onde o Ermitão era de to<strong>do</strong>s bem conheci<strong>do</strong> e respeita<strong>do</strong>; e<br />

perguntan<strong>do</strong> pela casa em que estava a pouco venturosa Teo<strong>do</strong>ra, a acharam<br />

já defunta de poucas horas e ain<strong>da</strong> naquele fúnebre espectáculo, com<br />

aparências de tão bela que parece que a morte não executara o golpe para<br />

privá-la <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, mas só para representar uma semelhança de morta. Tinha<br />

trespassa<strong>do</strong> o peito <strong>da</strong> cruel estoca<strong>da</strong> <strong>da</strong><strong>da</strong> pela mão <strong>do</strong> mais ingrato<br />

homici<strong>da</strong>, tão ajusta<strong>da</strong> ao coração que, se dela não ficou feri<strong>do</strong>, ficou <strong>do</strong> golpe<br />

assombra<strong>do</strong>, e os espíritos vitais tão fugitivos <strong>do</strong> ferro que, desamparan<strong>do</strong> a<br />

quem de antes tão cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos acudiam, deixaram de ser vitais, pois com seu<br />

retiro a privaram acovar<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />

To<strong>do</strong>s estavam magoa<strong>do</strong>s no lugar de verem uma moci<strong>da</strong>de tão<br />

malogra<strong>da</strong>, uma beleza tão infelice, morta com tal rigor quem merecia a<br />

pie<strong>da</strong>de; que sempre, como disse Euripides, tem natural propensão a mulher<br />

para enternecer e abran<strong>da</strong>r. Aí referiram ao Ermitão como a defunta com<br />

muitas lágrimas se confessara e declarara às mulheres que na casa lhe<br />

assistiram como, ten<strong>do</strong> vin<strong>do</strong> de Sicília com o mata<strong>do</strong>r em uma nau que<br />

aportou na marítima ci<strong>da</strong>de de Rore, empório <strong>do</strong> mar Adriático poucas milhas<br />

distante de Manfredónia, por imagina<strong>do</strong>s ciúmes que teve <strong>do</strong> capitão <strong>da</strong> nau<br />

para com ela, que neles não estava culpa<strong>da</strong> em ofendê-lo, desembarcan<strong>do</strong> em<br />

terra, a levara àquele solitário lugar cautelosamente para lhe tirar a vi<strong>da</strong>, onde<br />

O memso que cre<strong>do</strong>r.

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