17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 323<br />

e um só o leva. Vontades não se conquistam com armas, senão com serviços.<br />

Avantaje-se ca<strong>da</strong> qual nas finezas, perten<strong>da</strong> com os desvelos, obrigue com os<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, e o que for mais venturoso que possa abrir brecha no adiamanta<strong>do</strong><br />

de seu peito, esse logre a vitória, aclame o triunfo e receba a coroa de mais<br />

venturoso. Este é meu parecer, que me parece o mais acerta<strong>do</strong>; vossas<br />

mercês se dem os braços de amigos e ca<strong>da</strong> qual prossiga sua ventura; que<br />

tomar pendências pelo que pende de alheia vontade é arrojo <strong>da</strong> paixão e<br />

desacerto <strong>do</strong> juízo.<br />

Agra<strong>do</strong>u a to<strong>do</strong>s o discreto parecer de Dom Sancho. E assim, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-se<br />

os braços, Fábio e Júlio ficaram amigos. E tocan<strong>do</strong> Fábio um apito, vieram <strong>do</strong><br />

mais oculto <strong>do</strong> sombrio vale seus cria<strong>do</strong>s com os cavalos que deixa<strong>do</strong> tinham;<br />

em que subin<strong>do</strong>, e nós juntamente nos nossos, fomos caminhan<strong>do</strong> o que <strong>do</strong><br />

dia ficava, importuna<strong>do</strong>s de Fábio e Júlio para irmos pousar com eles; que foi<br />

necessário deixar-nos vencer de sua cortesia. E assim chegámos, já entra<strong>da</strong> a<br />

noite, à ci<strong>da</strong>de de Malhiano, que está no alto de um monte situa<strong>da</strong>, populosa<br />

de gente e vistosa de alguns nobres edifícios. E porque ca<strong>da</strong> um queria levar-<br />

nos a sua casa, por não faltarmos à cortesia de ambos, eu fui hóspede de<br />

Fábio e Dom Sancho de Júlio, que não distavam muito umas casas <strong>da</strong>s outras;<br />

e como eram pessoas principais na ci<strong>da</strong>de, tu<strong>do</strong> lhes sobrou para sermos com<br />

grandeza hospe<strong>da</strong><strong>do</strong>s e com demonstrações de alegria recebi<strong>do</strong>s. Ao outro dia<br />

de manhã, despedin<strong>do</strong>-nos de Júlio e Fábio, nos partimos na volta de Liorne,<br />

caminhan<strong>do</strong> apressa<strong>do</strong>s com os desejos que tinha de chegar a ver a meu pai e<br />

a Lucin<strong>da</strong>; porém com uma insaciável curiosi<strong>da</strong>de de poder ver a Laura, tão<br />

hiperboliza<strong>do</strong> prodígio de beleza. Porque suposto que os <strong>do</strong>us amantes como<br />

tais a encarecessem, contu<strong>do</strong>, sen<strong>do</strong> pessoas de bom juízo e sen<strong>do</strong> a fama o<br />

ora<strong>do</strong>r contínuo que aplaudia o raro <strong>da</strong> fermosura, sem dúvi<strong>da</strong> seria admiração<br />

para vista, pois era maravilha para louva<strong>da</strong>. Bem disse o padre S. Gregório 324<br />

que a curiosi<strong>da</strong>de demasia<strong>da</strong> era esquecimento de si própria. Porque se eu<br />

não intentara ver ao perto a Laura, não experimentara depois tantos perigos.<br />

Que importava à simples mariposa investigar tanto de perto onde nasciam os<br />

resplan<strong>do</strong>res <strong>da</strong> luz, para ficar abrasa<strong>da</strong> em seus raios? Ao filósofo<br />

Empé<strong>do</strong>cles matou a curiosi<strong>da</strong>de de querer especular de perto os incêndios <strong>do</strong><br />

D. Greg., Homil. 36.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!