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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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54 A novela portuguesa no século XVII:<br />

Entre os espaços nomea<strong>do</strong>s nesta novela, pelo visualismo resultante <strong>da</strong><br />

abundância de pormenores, destaca-se a descrição <strong>do</strong> milagroso santuário e<br />

devota cova e templo dedica<strong>do</strong> ao glorioso arcanjo São Miguel:<br />

"É este devoto santuário uma grande cova ou lapa aberta em uma viva rocha deste<br />

monte por obra <strong>do</strong>s anjos, como piamente se crê. Entra-se nela por uma porta grande de<br />

mármore bem lavra<strong>do</strong>, que fica à parte <strong>do</strong> meio-dia, a qual lhe man<strong>da</strong>ra fazer os senhores <strong>do</strong><br />

reino de Nápoles e Apulha. Desta entra<strong>da</strong> se vai descen<strong>do</strong> por cinquenta e cinco degraus<br />

continua<strong>do</strong>s para a parte <strong>do</strong> norte, que se lhe não comunicassem luz as frestas que na viva<br />

pedra como arte se fizeram, não poderiam sem luz artificial como<strong>da</strong>mente decer os peregrinos<br />

por eles. No fim desta esca<strong>da</strong> se vê um cemitério grande em campo plano, no qual há muitas<br />

capelas e sepulturas de várias pessoas. Passa<strong>do</strong> este campo e cemitério, por uma porta de<br />

metal obra<strong>da</strong> de curioso artifício se entra na santa cova, na qual se não concede entra<strong>da</strong><br />

alguma antes de nacer o sol. Esta porta, pela qual se entra neste santo lugar, está direita ao<br />

poente; e à mão direita dela se vê aquele santuário e templo dedica<strong>do</strong> ao S. Arcanjo, to<strong>do</strong> feito<br />

de viva pedra milagrosamente. É esta lapa ou cova baixa, sombria e pouco clara: em meio dela<br />

está um coro pequeno a que se sobe por quatro degraus, sobre os quais está o altar dedica<strong>do</strong><br />

ao S. Arcanjo, tão eficaz com sua presença a ser respeita<strong>do</strong> e venera<strong>do</strong> que não há ânimo, por<br />

mais distraí<strong>do</strong> e indevoto que seja, que não mostre temor e reverência grande, movi<strong>do</strong><br />

interiormente de força superior quan<strong>do</strong> a tão santo altar se avezinha. Está este altar que o S.<br />

Arcanjo consagrou a sua memória coberto de ouro, feito por arte, aonde de ordinário as missas<br />

se celebram. Não muito distante se mostra uma fonte de licor precioso e sempre manancial, <strong>da</strong><br />

qual to<strong>do</strong>s se aproveitam em suas necessi<strong>da</strong>des, aflições e enfermi<strong>da</strong>des por remédio certo e<br />

proveitoso para conseguir saúde nelas. À mão esquer<strong>da</strong> ficam outras capelas e altares em que<br />

também se celebram missas, entre os quais há <strong>do</strong>us que também é tradição de serem feitos<br />

milagrosamente. É o pavimento deste milagroso templo de mármores brancos e vermelhos: há<br />

nele uma fermosa cruz de transparente cristal, <strong>da</strong> qual é tradição ser juntamente acha<strong>da</strong> nesse<br />

milagroso santuário em sua invenção e aparecimento.<br />

Numa obra defensora de uma moral cristã, compreende-se a insistente<br />

referência a espaços sagra<strong>do</strong>s. O templo de S. Leonar<strong>do</strong>, além <strong>da</strong> devoção<br />

que move os peregrinos a visitá-lo, proporciona o encontro com personagens<br />

detentoras de histórias capazes de maravilhar o ouvinte/ leitor, veiculan<strong>do</strong>-se<br />

por entre a novi<strong>da</strong>de <strong>da</strong> intriga a moralização <strong>do</strong>s comportamentos:<br />

Mateus RIBEIRO, Alivio de tristes e consolação de queixosos, Parte I, p.212.

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