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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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998 Padre Mateus Ribeiro<br />

o caírem na indignação de vossa excelência bem poderá ser desgraça, mas<br />

não justiça.<br />

Queixa-se vossa excelência de que amou a Fenisa com extremos e<br />

finezas grandes: bem se prova essa ver<strong>da</strong>de nos efeitos de que duvi<strong>da</strong>r-se não<br />

pode, pois sen<strong>do</strong> vossa excelência filho de um potenta<strong>do</strong> tão grande,<br />

disfarça<strong>do</strong> fora de seu senhorio a busca, oferecen<strong>do</strong>-se para ser seu esposo.<br />

Agora, perguntara eu (se lícito me fora), se porventura Fenisa fora feia, se com<br />

essas finezas vossa excelência a amara? Bem podemos afirmar que não,<br />

porque se conforme ensina Aristóteles, <strong>do</strong>s contrários se dá a mesma ciência<br />

que os considera, sen<strong>do</strong> a fermosura amável, como diz Platão, ao contrário a<br />

feal<strong>da</strong>de não pode ser amável de si mesma. Daqui se infere que se vossa<br />

excelência amou a Fenisa por ser <strong>da</strong> beleza anima<strong>da</strong> admiração e vivo espanto<br />

de maior fermosura, a não amara se fora feia; e assim pouco tem Fenisa<br />

obrigação de se mostrar obriga<strong>da</strong> aos desvelos de que não foi causa, suposto<br />

que sua vista ser pudesse deles ocasião. A ingratidão não assenta senão sobre<br />

serviços aceitos e não remunera<strong>do</strong>s e sobre obrigações mal correspondi<strong>da</strong>s.<br />

Porém em quem nem as procura, nem finezas aceita, como pode cair<br />

ingratidão? É o amor acção livre <strong>da</strong> vontade que por nenhum humano, nem<br />

cria<strong>do</strong> poder jamais pode ser violenta<strong>da</strong>; se vossa excelência voluntariamente<br />

a Fenisa amou, pudera livremente não amá-la, como outros muitos haverá que<br />

a não amem; e assim não induz obrigação o que de si foi contingente e pudera<br />

não ser. Assi como se vossa excelência a não amara, não pudera Fenisa de<br />

não ser ama<strong>da</strong> formar queixas com razão, sen<strong>do</strong> o amor tão voluntário e livre;<br />

assi vossa excelência não pode justamente culpá-la de não ser dela<br />

correspondi<strong>do</strong>, porque o que não induz obrigação, nunca se sujeita às<br />

censuras <strong>da</strong> injustiça.<br />

Queixa-se vossa excelência que perde por ser tão grande no esta<strong>do</strong> e<br />

na pessoa o casamento de Fenisa, que outro talvez virá a conseguir sen<strong>do</strong> em<br />

tu<strong>do</strong> inferior. Assim o conce<strong>do</strong>; mas que culpa tem Fenisa, se a fortuna lhe<br />

negou o esta<strong>do</strong> tão altivo com que pudesse igualar ao de vossa excelência; e<br />

pelo venerar tão superior o não aceita, que a ser seu igual o recebera? Lá<br />

disse Plutarco 1050 que nem a natureza, nem a fortuna consentem que tu<strong>do</strong> seja<br />

Plut., De amie. mult.

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