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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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946 Padre Mateus Ribeiro<br />

porque raras vezes se chega a pretender o que se julga por impossível de<br />

alcançar.<br />

Que pretende vossa excelência com esta jorna<strong>da</strong> a Bolonha? É por<br />

ventura só o fim de ver a Fenisa? Pouco prémio seria para caminho tão<br />

desairoso a um príncipe <strong>do</strong>ta<strong>do</strong> de tanto juízo e pren<strong>da</strong>s, como vossa<br />

excelência, se como disse Juvenal se devem colocar em igual balança os<br />

trabalhos com os prémios. Ain<strong>da</strong> essa vista de Fenisa seria dificultosa, se ela<br />

chegasse a conhecer que vossa excelência em Bolonha assistia, porque até<br />

em aparecer-lhe se mostraria esquiva quem jamais se lhe mostrou obriga<strong>da</strong>.<br />

Seguem os olhos os ditames <strong>da</strong> vontade, e como a de Fenisa nunca viveu<br />

empenha<strong>da</strong>, sempre se mostrou avarenta de sua vista, porque como esta<br />

pendia de sua vontade, quem nela nunca teve lugar, nunca achou franquea<strong>da</strong><br />

a vista. Para ocultar-se uma estrela qualquer átomo de nuvem basta; porque<br />

como tem débil a luz e o corpo à nossa vista representa tão pequeno, o menor<br />

vapor que se condensa é cortina para encobri-la e máscara bastante para<br />

rebuçá-la. Um vassalo, senhor, é como estrela que em pouco espaço se<br />

esconde; porque como a falta de sua vista e assistência é limita<strong>da</strong>, poucos<br />

olhos reparam em descobri-la, nenhum juízo se desvela por alcançá-la. Porém<br />

um príncipe é como o sol, que ain<strong>da</strong> que intentara ocultar-se, não pudera: não<br />

se podem <strong>da</strong>r nuvens tão densas, nem nubla<strong>do</strong> tão escuro ou cerração tão<br />

lôbrega que disfarçar possam sua presença; porque como o sol é alma <strong>da</strong> luz e<br />

vi<strong>da</strong> <strong>do</strong> dia, bem se conhece estar presente quan<strong>do</strong> o dia vive e bem se<br />

manifesta sua ausência quan<strong>do</strong> o dia, faltan<strong>do</strong>-lhe a luz com que respira,<br />

desalenta<strong>do</strong> morre.<br />

Vossa excelência é como o sol, que se faltar na corte, no mesmo<br />

instante se publica e sente sua ausência, quan<strong>do</strong> com a decência e<br />

acompanhamento costuma<strong>do</strong> de cria<strong>do</strong>s e caça<strong>do</strong>res não sai à caça.<br />

Divulgan<strong>do</strong>-se esta ausência e improviso retiro, que confusão seria no paço?<br />

Que descobri<strong>do</strong>res por man<strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>do</strong> duque, meu senhor, não sairiam em seu<br />

seguimento? Que vilas ou lugares não explorariam cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sos? Que<br />

passageiros deixariam passar sem reconhecerem e perguntarem com exacta<br />

diligência se a vossa excelência viram ou encontraram em seus caminhos,<br />

empenhan<strong>do</strong>-se em quererem neste descobrimento granjearem e merecerem o<br />

agra<strong>do</strong> de seu príncipe? Além disto ficaria sen<strong>do</strong> esta jorna<strong>da</strong> assunto de tão

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