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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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264 Padre Mateus Ribeiro<br />

Nunca a ventura vende tão baratos seus favores que se possa vangloriar<br />

um venturoso que lhe custaram pouco suas felici<strong>da</strong>des; que se <strong>do</strong> pouco preço<br />

nace a desestimação, quer a ventura que se estimem em muito suas ditas,<br />

venden<strong>do</strong>-as ao maior preço. E quan<strong>do</strong> por baratas se avaliam nos princípios,<br />

bem lhas vende caro nos fins. Três novas alegres e felices chegaram<br />

juntamente em um dia a Filipe, rei de Macedónia, pai <strong>do</strong> grande Alexandre: o<br />

primeiro, que Parmenião, capitão de seu exército, alcançara gloriosa vitória <strong>do</strong>s<br />

llíricos; a segun<strong>da</strong>, que os seus cavalos, que ele muito estimava, ficaram<br />

vence<strong>do</strong>res na carreira <strong>do</strong>s jogos Olímpicos; e a terceira que lhe nacera seu<br />

filho Alexandre para ser sucessor de sua monarquia; o que ouvin<strong>do</strong> o sábio rei<br />

suspirou, dizen<strong>do</strong>:<br />

- Com que infortúnio e desgosto me compensará a ventura tantas<br />

felici<strong>da</strong>des juntas?<br />

E não se enganou no temor, pois ultimamente veio a ser violentamente<br />

morto por Pausânias a punhala<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong> mais feliz e seguro se julgava.<br />

Esta ventura que hoje logro a meus pesares devo, que se tantos não<br />

sentira meu coração, não a possuíra minha alegria. Só sinto, senhores, vosso<br />

discómo<strong>do</strong>, em que protesto ser-vos fiel companheiro até com quanto valer e<br />

possuir pôr-vos em seguro e procurar-vos to<strong>do</strong> o remédio possível; que ânimos<br />

agradeci<strong>do</strong>s nunca necessitam de que se lhes lembrem os benefícios que<br />

receberam, porque não só os tem escritos na memória, mas impressos, como é<br />

justo, no coração. Lembra-me que <strong>da</strong>n<strong>do</strong> César a vi<strong>da</strong> a um cavaleiro <strong>do</strong> ban<strong>do</strong><br />

de seus contrários, a petição e rogos de um seu vali<strong>do</strong>, este ca<strong>da</strong> vez que se<br />

encontrava com o cavaleiro a quem livrou <strong>da</strong> morte lhe dizia:<br />

disse assim:<br />

- Que houvera si<strong>do</strong> de vossa vi<strong>da</strong> se eu vos não valera?<br />

O que repetin<strong>do</strong> em muitas ocasiões, molesta<strong>do</strong> o apadrinha<strong>do</strong>, lhe<br />

- Se me julgas por ingrato ao que por mim fizestes, não me valeras;<br />

porque de ingratos não se pode esperar conhecimento aos favores recebi<strong>do</strong>s;<br />

e se me julgas por agradeci<strong>do</strong>, para que me molestas com repetir-me tantas<br />

vezes o favor com lembrar-me o perigo? Não permitirás que talvez me<br />

esqueçam minhas desgraças sem seres desperta<strong>do</strong>r de meus perigos? Menos<br />

mal me fizeras em consentir matar-me, pois só de uma vez sofrera a morte,<br />

que em me lembrares tantas vezes o risco em que tive a vi<strong>da</strong>; pois ca<strong>da</strong>

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