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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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900 Padre Mateus Ribeiro<br />

o usar dela. O ter a ciência é sempre bom e louvável, o usar dela nem sempre<br />

é necessário. Enquanto eu não me disponho a mu<strong>da</strong>r de esta<strong>do</strong>, me parece a<br />

mais segura ocupação a de continuar os estu<strong>do</strong>s, pois vou já no fim deles, e<br />

não é certo quem continuou com o mais, retirar-me quan<strong>do</strong> me falta o menos.<br />

Com esta resolução não me fizeram mais instâncias. Despedi<strong>do</strong> enfim<br />

de minha mãe, parentes e amigos, bem acompanha<strong>do</strong> de cria<strong>do</strong>s e provi<strong>do</strong> de<br />

dinheiro, que é prudente prevenção para quem de sua pátria sai, me parti para<br />

Bolonha uma madruga<strong>da</strong>, quan<strong>do</strong> começavam as aves com seu canto a<br />

despertarem <strong>do</strong> sono aos descui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, que no pláci<strong>do</strong> divertimento desta<br />

suspensão <strong>do</strong>s senti<strong>do</strong>s feriava <strong>do</strong>s desvelos <strong>do</strong> dia, onerosa pensão <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

humana. Ao clarim <strong>da</strong>s harmónicas vozes que chamavam reconduzia ca<strong>da</strong><br />

qual seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s como sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s ao som no estron<strong>do</strong>so parche para a<br />

marcha <strong>da</strong> milícia <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, como lhe chamou Job 882 e a intitula S. João<br />

Crisóstomo 883 . Porém na viva guerra deste mun<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> se pode <strong>da</strong>r<br />

suspensão de armas mais que nas breves horas que o sono dura? Acode ao<br />

chama<strong>do</strong> <strong>da</strong> aurora o lavra<strong>do</strong>r ao ara<strong>do</strong>, o jornaleiro ao trabalho, o pastor ao<br />

desvelo, o pretendente ao cortejo, o litigante ao juízo, o ban<strong>do</strong>leiro ao assalto,<br />

o pobre à esmola, o rico ao comércio, o sol<strong>da</strong><strong>do</strong> à resenha, o adula<strong>do</strong>r à lisonja<br />

e finalmente o caminhante à jorna<strong>da</strong>, como eu a Bolonha, aonde me levava<br />

mais a curiosi<strong>da</strong>de que de estu<strong>da</strong>r tinha <strong>do</strong> que a necessi<strong>da</strong>de que a seguir a<br />

academia me obrigasse. Aponta a fortuna o golpe ao desejo conforme sua<br />

natural inclinação, disfarçan<strong>do</strong> a mu<strong>da</strong>nça de sua inconstante ro<strong>da</strong> no que<br />

parece mais apetecível; e seguin<strong>do</strong> ca<strong>da</strong> qual o incógnito rumo de seu próprio<br />

destino, lisonjea<strong>do</strong> incorre no que menos desejava, como <strong>da</strong>s sereias fingiu a<br />

antigui<strong>da</strong>de no suave <strong>da</strong> música e no mortal <strong>do</strong> naufrágio.<br />

A uns chama a fortuna pelas armas, como a César, a Pompeu e a Marco<br />

António, a outros leva pelas letras, como a Cícero, a Séneca e a Lucano, e a<br />

to<strong>do</strong>s com violência privou <strong>da</strong>s vi<strong>da</strong>s, porque debaixo <strong>da</strong> natural inclinação que<br />

seguiam, ocultou a espa<strong>da</strong> que prever não puderam. Cheguei a Bolonha, entrei<br />

logo em casa de meu amigo Roberto Bentivolhe, que ele e Lívia, sua esposa,<br />

me receberam com excessiva alegria, lembra<strong>do</strong>s <strong>do</strong> muito que por eles fizera,<br />

Chrys., Super Luc.

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