17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 451<br />

o véu de suas sombras favorecesse sua amorosa fugi<strong>da</strong>, saiu <strong>da</strong> quinta com<br />

Flora, tanto por extremo bela que pudera deste roubo o troiano Paris ter inveja<br />

quan<strong>do</strong> roubou a Helena para sua ruína. Era a noite escura, porque mal<br />

cintilavam as estrelas, que como nos olhos de Flora as levava tão luzi<strong>da</strong>s,<br />

pouca falta lhes faziam resplan<strong>do</strong>res. Eram as nuvens cortinas que a intervalos<br />

encobriam os faróis <strong>do</strong> firmamento, mas como o amor lhes servia de guia,<br />

confia<strong>da</strong>mente caminhavam quan<strong>do</strong> tinham tão arrisca<strong>do</strong> o caminho, que<br />

nunca chega facilmente a desenganar-se quem leva consigo os motivos de<br />

desvanecer-se. Seguiam a corrente <strong>do</strong> rio, que como arrieiro de cristal que de<br />

dia e de noite sem parar caminha os ia guian<strong>do</strong> ao mar, centro em que param<br />

as ânsias com que corre, então só desengana<strong>do</strong> quan<strong>do</strong> perdi<strong>do</strong>, pois lhe<br />

valera mais ser forte e conservar-se que despenhar-se rio para perder-se.<br />

Chegaram ao mar quan<strong>do</strong> a alva vinha rompen<strong>do</strong> as nuvens com seus<br />

raios, descobrin<strong>do</strong> os campos dilata<strong>do</strong>s <strong>do</strong> mar, que com os inquietos brami<strong>do</strong>s<br />

de suas on<strong>da</strong>s nunca sabem lisonjear sossego a quem o busca, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong><br />

o conhece inconstante. Estava a embarcação de Raimun<strong>do</strong> em distância de<br />

meia légua de terra ancora<strong>da</strong>, e como o silêncio <strong>da</strong> noite se encontrava com o<br />

murmurar <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s, que mal concediam ouvirem-se as vozes de quem<br />

chamava, e o perigo de poderem vir-lhe no alcance os afligia, ven<strong>do</strong> Reginal<strong>do</strong><br />

uma barca de pesca<strong>do</strong>res que na praia estava resistin<strong>do</strong> aos assaltos <strong>do</strong> mar<br />

ata<strong>da</strong> a uma fateixa, pequeno escu<strong>do</strong> para rebater tão repeti<strong>do</strong>s assaltos,<br />

entran<strong>do</strong> nela com Flora e largan<strong>do</strong> a cor<strong>da</strong> que a sustinha por estarem<br />

ausentes os pesca<strong>do</strong>res, toman<strong>do</strong> os remos nas mãos quis entregar à ventura<br />

o mais precioso de suas esperanças, se quem as entrega ao mar tem<br />

esperanças seguras.<br />

Cap. XIII.<br />

Em que se prossegue a história de Reginal<strong>do</strong><br />

Reman<strong>do</strong> contra o ímpeto <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s e contra os encontros <strong>da</strong> ventura ia<br />

Reginal<strong>do</strong> cortan<strong>do</strong> os mares, sen<strong>do</strong> seu amor o piloto mais destemi<strong>do</strong> que em<br />

tão frágil embarcação atravessava tantos golfos. Era Flora o norte de seus

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!