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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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522 Padre Mateus Ribeiro<br />

se ensenhoreou <strong>da</strong> absoluta administração <strong>da</strong> república. Depois, com a<br />

mu<strong>da</strong>nça <strong>do</strong>s tempos e varie<strong>da</strong>de <strong>da</strong> fortuna, perderam os Polentanos o<br />

<strong>do</strong>mínio que tinham e ficaram excluí<strong>do</strong>s <strong>da</strong> soberania que antigamente<br />

lograram. Deixou Júlio, meu pai, a vi<strong>da</strong> presente em i<strong>da</strong>de que fiquei eu de oito<br />

anos, per<strong>da</strong> de mim então pouco conheci<strong>da</strong> e depois bem senti<strong>da</strong> e hoje bem<br />

chora<strong>da</strong>: sen<strong>do</strong> os pais tão dignos de serem ama<strong>do</strong>s, que como disse S. João<br />

Crisóstomo, tem os filhos obrigação té os últimos alentos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> de venerarem<br />

e servirem a seus pais.<br />

Inclinei-me às letras e juntamente às armas, que são os <strong>do</strong>us caminhos<br />

que os filhos segun<strong>do</strong>s pela maior parte seguem, que não impede o exercício<br />

escolástico o uso <strong>da</strong>s armas. Bem se viu em o insigne capitão tebano<br />

Epaminon<strong>da</strong>s, que foi invencível nas armas e eruditíssimo nas letras; Lúcio<br />

Sila, Júlio César e outros muitos <strong>da</strong> antigui<strong>da</strong>de que assim na erudição <strong>da</strong>s<br />

letras como na glória militar foram no mun<strong>do</strong> tão celebra<strong>do</strong>s. Enfim com fama<br />

de letras e de sol<strong>da</strong><strong>do</strong> nas armas, de vinte anos de i<strong>da</strong>de fui chama<strong>do</strong> <strong>do</strong><br />

duque de Urbino para seu secretário, por via de um tio meu que em Urbino<br />

vivia e desejava ver-me com aumentos que se prometia sua esperança na<br />

corte de um tal príncipe, se merecesse ser seu vali<strong>do</strong>. É o cargo de secretário<br />

<strong>do</strong>s príncipes empenho dificultoso por ser sua obrigação entender e calar,<br />

como disse Aulo Gélio 511 : ser tesoureiro <strong>do</strong>s segre<strong>do</strong>s mais arrisca<strong>do</strong> é que<br />

<strong>da</strong>s riquezas. Porque se estas se roubarem, pode servir de desculpa a<br />

violência de quem as rouba; mas se os segre<strong>do</strong>s se descobrirem, não se pode<br />

atribuir senão à desleal<strong>da</strong>de de quem os manifesta; que porventura por isso<br />

chamou S. Gregório Papa 512 ao segre<strong>do</strong> depósito <strong>da</strong>s palavras e não menos<br />

<strong>do</strong>s pensamentos. São as vontades <strong>do</strong>s príncipes escrupulosas de publicarem<br />

seus afectos, e quan<strong>do</strong> se resolvem a declará-los, querem que os peitos de<br />

seus secretários e vali<strong>do</strong>s sejam sepulturas para ocultá-los e eles mais que<br />

mu<strong>do</strong>s para não dizê-los. Mais que mu<strong>do</strong>s disse, porque talvez estes<br />

impossibilita<strong>do</strong>s <strong>da</strong> voz se explicam com os acenos; e o secretário fiel nem com<br />

acenos há-de entender-se, nem com as vozes declarar-se. Entrei em casa <strong>do</strong><br />

duque com esta lição bem estu<strong>da</strong><strong>da</strong>: pagou-se de meu talento, mereci em<br />

511 Aul. Gel., Lib. 1.<br />

512 S. Greg., Horn, in Ezecch.

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