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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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958 Padre Mateus Ribeiro<br />

grande. É Fenisa, sua filha, o centro de seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, o desvelo de seu amor<br />

e o mimo de seu desejo, e com razão colocaram seus pais nela to<strong>do</strong> o<br />

empenho de seu querer, porque nela se acha uni<strong>do</strong> quantos <strong>do</strong>tes e perfeições<br />

em outras vivem separa<strong>da</strong>s. É <strong>da</strong> fermosura anima<strong>da</strong> admiração e em vinte<br />

anos de i<strong>da</strong>de o juízo mais ancião, a discrição mais subi<strong>da</strong>, o discurso mais<br />

acerta<strong>do</strong>; na modéstia rara maravilha, pois em tanta beleza se retira de ser<br />

vista e em tão singular aviso obriga-a só a falar o respeito que a seus pais se<br />

deve. Tão briosa e senhoril na condição e de opinião tão altiva que à sua vista<br />

na<strong>da</strong> avultam as riquezas, nem os esta<strong>do</strong>s, não lhe servin<strong>do</strong> de suborno à<br />

vontade, porque tu<strong>do</strong> estima em pouco quem a si se estima em mais.<br />

Deu fim Adriano a sua relação, de que eu lhe rendi as graças, julgan<strong>do</strong><br />

no estilo de seu discurso o selecto de seu juízo, merece<strong>do</strong>r <strong>do</strong> muito em que<br />

Frederico o estimava por suas letras, prudência e bons procedimentos. E<br />

porque era já a noite entra<strong>da</strong>, me despedi bem cui<strong>da</strong><strong>do</strong>so <strong>do</strong> que ouvi<strong>do</strong> tinha<br />

<strong>da</strong>s notícias que me havia <strong>da</strong><strong>do</strong> <strong>da</strong>s pretensões de Raimun<strong>do</strong>.<br />

Passei a noite desvela<strong>do</strong>, e sen<strong>do</strong> o sono, como diz Aristóteles 972 , <strong>da</strong><strong>do</strong><br />

aos mortais para alívio <strong>do</strong>s cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e férias <strong>do</strong>s trabalhos <strong>do</strong> dia, em mim,<br />

pelo contrário, foi um repeti<strong>do</strong> cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e um contínuo desvelo, sen<strong>do</strong> as<br />

imaginações estímulos <strong>do</strong> discurso que o incitam a fabricar vários<br />

pensamentos que a memória lhe propõe. Via-me empenha<strong>do</strong> em amar Fenisa,<br />

ain<strong>da</strong> que sem manifestar-lhe este cui<strong>da</strong><strong>do</strong>, por não poder descobrir ocasião<br />

em que falar-lhe pudesse, sen<strong>do</strong>, como diz Demóstenes 973 , a voz <strong>da</strong> ocasião<br />

oportuna a mais eficaz; porém o retiro de seu recolhimento e a companhia de<br />

sua mãe e cria<strong>da</strong>s e o receio de que pudessem seus irmãos presumir meus<br />

pensamentos cortavam em flor meus desejos, sen<strong>do</strong> abortos que antes de<br />

saírem à luz mortos ficavam, morren<strong>do</strong> de cobardes, sen<strong>do</strong> nasci<strong>do</strong>s <strong>do</strong> amor,<br />

que é mestre <strong>da</strong>s ousadias, como lhe chama Platão 974 . Porém com as notícias<br />

que Adriano me deu <strong>da</strong>s causas <strong>da</strong> mu<strong>da</strong>nça de Frederico para Bolonha,<br />

intentos de Raimun<strong>do</strong> e desengana<strong>da</strong>s pretensões de Bernardino, posso<br />

afirmar que vi minhas esperanças quasi desespera<strong>da</strong>s.<br />

Arist., De son. & vig.<br />

Dem., Exargum. lib.<br />

Plat., in Tim.

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