17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte V 829<br />

acerta<strong>do</strong>, só lhe achava uma dificul<strong>da</strong>de, e era que estan<strong>do</strong> Feliciano ao<br />

presente retira<strong>do</strong> na sua quinta, e não tratan<strong>do</strong> <strong>do</strong> casamento de Florisela,<br />

minha irmã, parecia cousa dura que sen<strong>do</strong> eu o agrava<strong>do</strong>, houvesse de<br />

cometer parti<strong>do</strong>s, fazen<strong>do</strong> a meu ofensor árbitro deles. Concedeu Roberto na<br />

razão, porém não desconfian<strong>do</strong> <strong>do</strong> efeito, me disse ordenássemos uma caça<strong>da</strong><br />

para onde Feliciano tinha a quinta, e que ele tomava a seu cargo, sem eu<br />

intervir em <strong>da</strong>r-me por sabe<strong>do</strong>r <strong>do</strong> que se tinha passa<strong>do</strong>, buscar conveniente<br />

mo<strong>do</strong> com que este negócio se efectuasse.<br />

Comuniquei a minha mãe e irmã o intento que tinha, e ambas se<br />

mostraram satisfeitas <strong>do</strong> casamento de Feliciano, assi para efeito <strong>da</strong> paz, que<br />

era seu maior desejo, como também porque estava Florisela de to<strong>do</strong> esqueci<strong>da</strong><br />

de Silvério, por me haver indiscretamente declara<strong>do</strong> sua afeição, cousa<br />

merece<strong>do</strong>ra de to<strong>da</strong> a censura <strong>do</strong>s discretos a condenarem por nece<strong>da</strong>de,<br />

quan<strong>do</strong> a não julgassem por loucura. Muitas vezes a loquaci<strong>da</strong>de origina <strong>da</strong>no<br />

e poucas causa proveito, disse-o Plutarco 752 . Há tempo de falar, diz Hugo 753 , e<br />

tempo de calar, mas nunca há tempo de to<strong>do</strong> se dizer. E como Silvério quis<br />

alegar por merecimento galanteios de afeiçoa<strong>do</strong>, deu-se minha irmã por<br />

ofendi<strong>da</strong> de que fizesse relação <strong>do</strong> que devia sepultar no silêncio. Além de que<br />

estava afeiçoa<strong>da</strong> ao bizarro termo que com ela usou Feliciano, ao primoroso de<br />

sua condição e ao esplen<strong>do</strong>r e grandeza de sua casa e sobretu<strong>do</strong> ao grande<br />

amor que lhe tinha mostra<strong>do</strong>: razões to<strong>da</strong>s por que desejava ela e minha mãe<br />

se efectuasse com minha aprovação o casamento.<br />

Dei ordem a aprestar-se o expediente para a caça<strong>da</strong>, e <strong>da</strong>í a <strong>do</strong>us dias<br />

nos partimos de manhã eu e Roberto para as ribeiras <strong>do</strong> rio Sávio, para onde<br />

ficava a grandiosa quinta de Feliciano Tibério, que assi no sumptuoso como no<br />

dilata<strong>do</strong> <strong>da</strong>va ao cau<strong>da</strong>loso rio assunto de retratar sua grandeza no cristalino<br />

espelho de sua corrente. É a vizinhança <strong>do</strong> rio sau<strong>do</strong>sa pelo ameno <strong>do</strong> campo<br />

que com suas águas de verde gala veste, de várias cores matiza e de<br />

fron<strong>do</strong>sas árvores se cerca. Ao bran<strong>do</strong> murmurar de seus cristais respondia<br />

<strong>da</strong>s aves a harmonia em solfa sem letra, mais festeja<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> menos<br />

entendi<strong>da</strong>: que talvez há cousas que então se estimam mais, quan<strong>do</strong> se<br />

Plut., Prob. 7.<br />

Hugo, De Disc. Mon.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!