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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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844 Padre Mateus Ribeiro<br />

avizinhava o dia; eu e Roberto, que desvela<strong>do</strong>s estávamos, chamámos aos<br />

caça<strong>do</strong>res para que se apressassem para partirmos, a cujas vozes<br />

despertan<strong>do</strong> Antíoco e Feliciano fizeram o mesmo, e em breve montan<strong>do</strong> a<br />

cavalo os quatro, segui<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s caça<strong>do</strong>res e assisti<strong>do</strong>s <strong>do</strong>s cria<strong>do</strong>s que eram<br />

<strong>do</strong>ze, antes que a aurora tivesse de to<strong>do</strong> aclama<strong>do</strong> o triunfo de seus matutinos<br />

resplan<strong>do</strong>res, começámos a caminhar pelas fragosas raízes <strong>do</strong> monte Apenino,<br />

penhascoso sítio, sempre ocasiona<strong>do</strong> em Itália a ser asilo de temerários<br />

atrevimentos, como em tantas ocasiões se tem visto e nesta presente<br />

confirmou o sucesso que direi.<br />

Diverti<strong>do</strong>s com os reclamos <strong>da</strong> caça que os caça<strong>do</strong>res buscavam, lisonja<br />

<strong>do</strong> caminho para sentir-se menos, íamos seguin<strong>do</strong> o de Sarafina, que as raízes<br />

<strong>do</strong> eminente monte em partes atravessa, quan<strong>do</strong> de repente ouvimos umas<br />

vozes lastimosas de mulher que se queixava e socorro pedia. Apressámos os<br />

cavalos para o lugar <strong>do</strong>nde as vozes saíam e os caça<strong>do</strong>res e cria<strong>do</strong>s em nosso<br />

seguimento, quan<strong>do</strong> no profun<strong>do</strong> de um vale de arvore<strong>do</strong> silvestre sitia<strong>do</strong> e<br />

com o denso de seus teci<strong>do</strong>s ramos escondi<strong>do</strong>s vimos oito homens que no<br />

traje <strong>da</strong>s armas e desaforo logo pareciam ban<strong>do</strong>leiros que com violência<br />

traziam duas pastoras, obrigan<strong>do</strong>-as a que caminhassem e elas já com<br />

lágrimas, já com vozes, aos odiosos passos resistin<strong>do</strong>. À vista desta insolência,<br />

foragi<strong>do</strong> insulto e detestável tirania, a to<strong>do</strong> o correr <strong>do</strong>s cavalos e prepara<strong>da</strong>s<br />

as espingar<strong>da</strong>s os investimos e a <strong>do</strong>us deles, que mais vizinhos às pastoras<br />

estavam e parece que com mais violenta instância a caminhar as impeliam, mal<br />

feri<strong>do</strong>s de <strong>do</strong>us tiros caíram logo em terra. Queriam os seus companheiros pôr-<br />

se em resistência; porém ven<strong>do</strong> acudir a tropa <strong>do</strong>s caça<strong>do</strong>res e cria<strong>do</strong>s,<br />

trataram de porem na ligeireza <strong>da</strong> fugi<strong>da</strong> a esperança de escaparem com vi<strong>da</strong>,<br />

que de outra sorte não lhes assegurava o temor, nem o insultuoso de seus<br />

delitos. Emboscaram-se pelo fragoso <strong>do</strong> monte e não tratámos de os seguir por<br />

atender às duas pastoras que desalenta<strong>da</strong>s estavam <strong>do</strong> susto em que se<br />

tinham visto, pois, como diz Ovídio 791 , um temor grande to<strong>da</strong>s as forças rouba<br />

e o alenta<strong>do</strong> <strong>do</strong>s vitais espíritos perturba. Uma <strong>da</strong>s pastoras lançou um sen<strong>da</strong>l<br />

azul sobre o rosto ao tempo que aos ban<strong>do</strong>leiros investimos, por onde conheci<br />

Ovid., Ep. 13.

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