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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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716 Padre Mateus Ribeiro<br />

viver de mal. Donde veio a dizer Cícero que não havia homem tão perverso<br />

na condição ou tão grosseiro no discurso a quem a própria vi<strong>da</strong> aborrecesse,<br />

sen<strong>do</strong> a cousa de que se devia fazer tão digna estimação. Pois, senhores, se<br />

nos vemos tão vizinhos ao último termo <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, respiran<strong>do</strong> já entre as sombras<br />

<strong>da</strong> morte, que paixão nos escurece a razão ou que engano nos cega os<br />

discursos <strong>do</strong> juízo para que, poden<strong>do</strong> <strong>da</strong>r às vi<strong>da</strong>s qualquer espaço, queiramos<br />

abreviar-lhe os termos, e poden<strong>do</strong> esperar nós <strong>da</strong> justiça qualquer indulto de<br />

clemência, hajamos de fechar com tão infrutuosa resistência as portas de to<strong>do</strong><br />

à pie<strong>da</strong>de?<br />

Se Cursieto Sambuco quis na desesperação acabar a vi<strong>da</strong> como<br />

bárbaro, haven<strong>do</strong> como tal sempre vivi<strong>do</strong>, não é exemplo para haver de imitar-<br />

se nem o desaforo de sua vi<strong>da</strong>, nem o desespera<strong>do</strong> de sua morte. Somos<br />

cristãos, morramos como tais, quan<strong>do</strong> hajamos de morrer; e quan<strong>do</strong> em rigor<br />

não possamos salvar as vi<strong>da</strong>s, trabalhemos por salvarmos as almas. Peçamos<br />

aos magistra<strong>do</strong>s os parti<strong>do</strong>s mais convenientes para nos entregarmos<br />

prisioneiros. E aceitemos os que a justiça nos der, pois em tu<strong>do</strong> nos está tão<br />

superior. E não sejamos como os inconsidera<strong>do</strong>s embaixa<strong>do</strong>res de Atenas que,<br />

quan<strong>do</strong> Lúcio Sila a tinha sitia<strong>da</strong> com poderoso exército e os <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de se<br />

viram no maior aperto, lhe vieram arrogantes a pedir parti<strong>do</strong>s tão soberbos<br />

para se entregarem e lhe falaram com tão pouca humil<strong>da</strong>de que ele os não<br />

quis mais ouvir e os despediu com dizer-lhes que ele vinha a castigar a Atenas<br />

por rebela<strong>da</strong> ao império romano e não para receber dela leis como de senhora;<br />

e assim entran<strong>do</strong>-a por assalto a <strong>do</strong>mou e castigou asperamente.<br />

Suspensos me ouviram to<strong>do</strong>s, e vieram a seguir meu parecer como mais<br />

acerta<strong>do</strong> e ao risco em que se viam mais seguro. Escreveu logo Luís Orsino<br />

por um de seus cria<strong>do</strong>s uma carta aos magistra<strong>do</strong>s, em que desculpan<strong>do</strong>-se <strong>da</strong><br />

resistência, pedia vários parti<strong>do</strong>s, que to<strong>do</strong>s se lhe negaram, senão que logo<br />

sem mais dilação, despoja<strong>do</strong>s de to<strong>da</strong>s as armas, se entregassem prisioneiros<br />

à justiça, aonde seriam ouvi<strong>do</strong>s <strong>do</strong> que tivessem antes <strong>da</strong> final sentença, ou se<br />

continuaria a bataria.<br />

Entregámo-nos logo, despoja<strong>do</strong>s <strong>da</strong>s armas, sen<strong>do</strong> Luís Orsino leva<strong>do</strong><br />

ao castelo com boa guar<strong>da</strong>, e to<strong>do</strong>s os mais que com ele estávamos<br />

Cicer., in Vatin.

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