17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 975<br />

meus anos, em que juízo ou discurso cabe? Avaliam-se em quem ama os<br />

ciúmes pelo maior tormento, e que eu na pretensão de Raimun<strong>do</strong> não só<br />

padeça os ciúmes, mas ain<strong>da</strong> que solicite a meu opositor a posse <strong>do</strong> bem que<br />

perco só o poderá crer quem me vê, mas mal o creria quem o ouvisse! Que me<br />

despoje eu <strong>da</strong>s esperanças para que outro delas se vista? Qual verde planta<br />

desta margem sofreu maior tirania, ven<strong>do</strong>-se rouba<strong>da</strong> <strong>do</strong> traje de que nos<br />

ramos fron<strong>do</strong>sos e folha<strong>do</strong> vesti<strong>do</strong> a quis enriquecer a natureza? Sem dúvi<strong>da</strong><br />

que a ser capaz de senti<strong>do</strong>, suspiran<strong>do</strong> se queixava, e eu com tantos senti<strong>do</strong>s<br />

e discursos como deixarei de queixar-me, quan<strong>do</strong> não posso isentar-me de<br />

senti<strong>do</strong>?<br />

Pois se uma planta insensível tivera conhecimento de se ver despoja<strong>da</strong><br />

se queixara, por que o sofrerei eu ten<strong>do</strong> discurso? Vim eu porventura a<br />

Bolonha a estu<strong>da</strong>r lições de insensível? Sou eu de pedra ou de bronze para<br />

que não abram brecha em meu peito golpes <strong>da</strong> fortuna tão repeti<strong>do</strong>s, tantas<br />

balas de pesares e petar<strong>do</strong>s tão reforça<strong>do</strong>s de desgostos? Que haja de ocultar<br />

meu coração os Etnas mais abrasa<strong>do</strong>s em incêndios sem desafogar a <strong>do</strong>r, sem<br />

buscar alívio à pena, sem contraminar o <strong>da</strong>no? Para quan<strong>do</strong> se guar<strong>da</strong> o<br />

escu<strong>do</strong>, se não há-de resistir ao golpe? Para que são os amigos, diz Cícero 1003 ,<br />

senão para o alívio <strong>da</strong> pena? Para que intitula Santo Agostinho 1004 ao amigo<br />

medicina <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, senão para socorrer a aflição <strong>do</strong> amigo no mais vivo <strong>da</strong> <strong>do</strong>r?<br />

Roberto é meu maior amigo, bem ajuiza<strong>do</strong> e nos sucessos <strong>do</strong> mun<strong>do</strong> visto: a<br />

ele quero comunicar meu sentimento, agora enquanto o <strong>da</strong>no pode receber<br />

remédio, antes que sem remédio me queixe de não haver procura<strong>do</strong> com<br />

tempo remédio a tão manifesto <strong>da</strong>no.<br />

Com esta resolução deixan<strong>do</strong> as cristalinas on<strong>da</strong>s <strong>do</strong> rio, que por<br />

atenderem a minhas queixas parece que mais dilata<strong>da</strong>s se moviam, entrei na<br />

ci<strong>da</strong>de e em casa de Roberto, meu amigo, que admira<strong>do</strong> de me ver tão<br />

demu<strong>da</strong><strong>do</strong> na cor e melancólico no aspecto, indícios de algum pesar que me<br />

oprimia, me perguntou a causa. Encerrei-me com ele no seu escritório e lhe dei<br />

notícias <strong>do</strong>s progressos desde a primeira hora que vi em Bolonha a Fenisa até<br />

o esta<strong>do</strong> presente, e como Raimun<strong>do</strong> por hóspede em minha casa ficava. Pedi-<br />

Aug., L 6. De Civit. Dei.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!