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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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278 Padre Mateus Ribeiro<br />

rigores, pois antes deixarei a vi<strong>da</strong> aos fios deste punhal que a honra aos<br />

assaltos de tua violência.<br />

Confuso entre admira<strong>do</strong> me ouviu o conde, nem delibera<strong>do</strong>, nem<br />

arrependi<strong>do</strong>, mas depois de um breve intervalo em que se aconselhou com<br />

seus desejos, me disse:<br />

- Até agora, fermosa Claudiana, te amei por fermosa e agora te quero<br />

mais por discreta; e se mal podia resistir um só motivo de amar-te, como<br />

resistirei <strong>do</strong>bran<strong>do</strong>-se os motivos de querer-te? O penhascoso <strong>da</strong>s serras, junto<br />

onde te criaste, te comunicou a dureza e a neve que as veste te repartiu o<br />

esquivo: a hora em que te vi foi para mim desditosa, quan<strong>do</strong> a julgava meu<br />

amor por mais felice. Ameaças-me que serás Lucrécia antes de eu ser<br />

Tarquino, mal se acovar<strong>da</strong> meu coração com ameaços; veremos se posso<br />

mais esquiva<strong>do</strong> <strong>do</strong> que pudera ser correspondi<strong>do</strong>.<br />

Assim disse, e queren<strong>do</strong> avizinhar-se temerário aonde eu estava, lhe<br />

meti o punhal tão vizinho ao coração, que cain<strong>do</strong> em terra sem voz nem<br />

movimentos, deu indícios de ser a feri<strong>da</strong> mortal; e eu abrin<strong>do</strong> a janela que a um<br />

jardim caía, e não era altura tal que me intimi<strong>da</strong>sse, me lancei abaixo, <strong>do</strong>nde<br />

sain<strong>do</strong> à quinta e saltan<strong>do</strong> seu muro encontrei a meu irmão Frederico, que o<br />

céu me deparou em aflição semelhante para amparar-me e trazer-me ao<br />

seguro abrigo desta casa, de quem espero to<strong>do</strong> o favor <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de de vossa<br />

senhoria, pois a causa é tão justa, eu tão persegui<strong>da</strong> <strong>da</strong> fortuna e vossa<br />

senhoria tão costuma<strong>da</strong> a valer aos que dela se amparam.<br />

Cap. XIV.<br />

Em Frederico prossegue a história de Claudiana<br />

Com grande aceitação foi de to<strong>do</strong>s louva<strong>da</strong> a generosa acção de<br />

Claudiana em defensa <strong>da</strong> sua honesti<strong>da</strong>de, porque se a tebana Timocleia, irmã<br />

<strong>do</strong> valeroso Teágenes, matou ao bárbaro capitão de Trácia e por isso foi<br />

louva<strong>da</strong> <strong>do</strong> grande Alexandre, foi depois de a ter violentamente força<strong>da</strong> no<br />

saco e destruição <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de de Tebas; mas Claudiana foi tanto mais aplaudi<strong>da</strong><br />

e com panegíricos celebra<strong>da</strong>, pois antes de padecer o agravo de força<strong>da</strong>, em

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