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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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752 Padre Mateus Ribeiro<br />

sua pretensão, queixan<strong>do</strong>-se <strong>do</strong> inexpugnável <strong>da</strong> vontade de Florisela,<br />

resistência tão repeti<strong>da</strong>, recato tão importuno, que furtava to<strong>da</strong>s as ocasiões<br />

em que podia ser dele vista, para fechar as portas a suas esperanças, se<br />

julgava pelo mais desditoso e se queixava pelo mais mal premia<strong>do</strong>.<br />

- Que tribute eu (dizia ele) finezas à ingratidão, desvelos ao rigor,<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s ao desprezo, obséquios ao insensível, serviços a um diamante,<br />

queixas a um bronze e finalmente amantes incêndios à mesma neve? Como se<br />

uniu tanta dureza à maior fermosura? Quem vinculou tal rigor a tal beleza?<br />

Como no rosto lhe matizou a delícia e no peito a inclemência? Na vista o<br />

amável e na ingratidão o aborrecível? Se a esquivança é política razão para ser<br />

mais ama<strong>da</strong>, a que maiores extremos pode chegar meu querer, quan<strong>do</strong> de<br />

extremos não se passa? Se repara nas antiguas discórdias de nossos ban<strong>do</strong>s,<br />

as parciali<strong>da</strong>des são passa<strong>da</strong>s e meu amor é de presente, e sempre move<br />

mais o objecto presente que o passa<strong>do</strong>. Nem ela foi ofendi<strong>da</strong>, nem eu o<br />

ofensor, e se se pusera em balança o ser ela ama<strong>da</strong> e seus passa<strong>do</strong>s<br />

ofendi<strong>do</strong>s, sem dúvi<strong>da</strong> pesaria mais meu amor presente que seu agravo<br />

passa<strong>do</strong>; porque o amar nasce <strong>da</strong> vontade e o ofender <strong>da</strong> ira, e tem maior<br />

nobreza qualquer acto <strong>da</strong> vontade para obrigar <strong>do</strong> que to<strong>da</strong>s as hostili<strong>da</strong>des <strong>da</strong><br />

ira para com vingativos arrojos ofenderem.<br />

Assi dizem se queixava Feliciano a alguns amigos a quem tinha<br />

comunica<strong>do</strong> seus cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s, e um deles, que se chama Antíoco, pessoa nobre<br />

e discreta, lhe respondeu desta sorte:<br />

Cap. III.<br />

Da prática que teve Antíoco com Feliciano e <strong>do</strong> que dela resultou<br />

- Suposto, amigo Feliciano, que foi dito <strong>do</strong> lírico poeta Simónides, como<br />

refere Plutarco 648 , que muitas vezes lhe pesou de haver fala<strong>do</strong>, porém nunca<br />

se arrependeu de haver cala<strong>do</strong>, e ain<strong>da</strong> que Aristóteles 649 diga que a nece<strong>da</strong>de<br />

sempre se adianta em responder, não consideran<strong>do</strong> que com uma só resposta<br />

Plut., De tuend. vai.<br />

Arist., Lib. n. 2.

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