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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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1016 Padre Mateus Ribeiro<br />

cardeal se prezava de ser tão recto na justiça e não desejava mostrar-se<br />

apaixona<strong>do</strong>, depois de muitos debates e controvérsias, resolveu que ou<br />

Frederico Manfre<strong>do</strong> fosse fiel carcereiro de Carlos, seu filho, assinan<strong>do</strong> termo<br />

obrigatório de o entregar preso quan<strong>do</strong> lhe fosse pela justiça a entrega pedi<strong>da</strong>,<br />

ou em liteira levassem preso a Carlos à torre de Asineis, que era a mais segura<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de.<br />

Já a este tempo concorriam muitos parentes <strong>do</strong> morto a favorecer a<br />

Petrónio em casa <strong>do</strong> cardeal, pedin<strong>do</strong>-lhe man<strong>da</strong>sse logo tropas de cavalaria<br />

em meu seguimento, porquanto era fugi<strong>do</strong>, o que logo se expediu; e ven<strong>do</strong><br />

Manfre<strong>do</strong> as cousas tão revoltas e o cardeal mostrar-se tão pouco favorável,<br />

assinou os termos diante dele de se obrigar a ser fiel carcereiro de seu filho<br />

Carlos com to<strong>da</strong>s as cláusulas e rigores que os parentes <strong>do</strong> morto apontar<br />

quiseram, e a seu pedimento se despediram justiças para serem presos os<br />

fugitivos sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s que na morte se acharam, como o cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> morto dito tinha;<br />

porém eles tinham caminha<strong>do</strong> to<strong>da</strong> a noite com tal pressa que entraram no<br />

senhorio <strong>do</strong> duque de Módena antes que amanhecesse, no qual já as justiças<br />

de Bolonha não tinham jurisdição.<br />

Meus cria<strong>do</strong>s derrama<strong>do</strong>s ca<strong>da</strong> qual por sua parte, sem de mim<br />

saberem, por vários caminhos embosca<strong>do</strong>s de dia e caminhan<strong>do</strong> de noite se<br />

partiram para Cesena, cui<strong>da</strong>n<strong>do</strong> que já lá me achassem pelo que eu lhes havia<br />

dito quan<strong>do</strong> de casa saí, mas deram em Cesena as notícias de meus<br />

sucessos, de que minha mãe e irmã receberam não pequeno susto, com<br />

temores se me prenderiam, por conhecerem ser o pai <strong>do</strong> morto muito<br />

aparenta<strong>do</strong> e poderoso em Bolonha e ouvin<strong>do</strong> dizer <strong>da</strong>s tropas de cavalo que<br />

em meu seguimento por várias estra<strong>da</strong>s eram expedi<strong>da</strong>s. Saí eu de casa<br />

apressa<strong>do</strong> com a espa<strong>da</strong> só e uma pistola, que foram só as armas que pude<br />

tomar com o susto de poder cercar-me a justiça se mais me detivesse, e<br />

caminhan<strong>do</strong> em horas tão intempestivas pelas ruas <strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de, sem atender a<br />

que parte me conduzisse, que, como diz Plutarco 1084 , o sobressalto de um<br />

temor perturba não só os senti<strong>do</strong>s, mas ain<strong>da</strong> impede os discursos. Discorri por<br />

diversas ruas, e em uma delas vi aberta a porta <strong>da</strong> casa térrea de um homem<br />

pobre, jornaleiro, que vivia de seu quotidiano trabalho e tinha madruga<strong>do</strong> para<br />

Plut., De virt. & fortit. Alex.

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