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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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616 Padre Mateus Ribeiro<br />

pazes com Cartago; ele ven<strong>do</strong> que não convinham elas ao crédito e autori<strong>da</strong>de<br />

de Roma, sua pátria, persuadiu ao sena<strong>do</strong> que não as fizesse. E quis antes<br />

expor-se a padecer a cruel morte que, tornan<strong>do</strong> ao cativeiro, os de Cartago lhe<br />

deram, <strong>do</strong> que, asseguran<strong>do</strong> a vi<strong>da</strong> e liber<strong>da</strong>de, ver o menor desaire na glória<br />

de sua pátria Roma. Diz Cícero que aos bons ci<strong>da</strong>dãos convém oferecerem as<br />

vi<strong>da</strong>s, as fazen<strong>da</strong>s e as pessoas pelo bem de sua república. Porque (como diz<br />

Tito Lívio) em tanto estarão seguras as vi<strong>da</strong>s e fazen<strong>da</strong>s particulares, enquanto<br />

estiver segura a paz e quietação <strong>do</strong> bem público.<br />

Ó ilustres ci<strong>da</strong>dãos de Bolonha que estais na outra vi<strong>da</strong>, os que<br />

perdestes as vi<strong>da</strong>s nos conflitos <strong>da</strong>s vinganças, nos bélicos arrojos <strong>do</strong> furor<br />

parcial, nas temeri<strong>da</strong>des <strong>do</strong>s séquitos e ban<strong>do</strong>s detestáveis, a vós chamo por<br />

testemunhas desta ver<strong>da</strong>de, que se vos fora permiti<strong>do</strong> o <strong>da</strong>res hoje vosso<br />

parecer, com quanta razão direis aos que vivos e presentes estamos que foi<br />

vossa porfia eclipse <strong>da</strong> razão, engano <strong>do</strong> discurso; pois poden<strong>do</strong> com<br />

segurança possuirdes as delícias <strong>da</strong> paz, seguistes as hostili<strong>da</strong>des <strong>da</strong> guerra, e<br />

poden<strong>do</strong> viver em união pacífica <strong>da</strong> amizade, que (como diz Aristóteles) é o<br />

maior bem <strong>da</strong> república, sen<strong>do</strong> de to<strong>do</strong>s ama<strong>do</strong>s, vos despenhastes rigorosos<br />

a morrerdes infelizmente de to<strong>do</strong>s aborreci<strong>do</strong>s. Direis sem dúvi<strong>da</strong>, e com<br />

razão, que só a paz é porto seguro, navegação bonançosa, castelo<br />

inexpugnável, vi<strong>da</strong> sem temores, alegria sem sobressaltos, posse sem litígios,<br />

felici<strong>da</strong>des sem pensão e ventura sem risco. Esta, senhora Aurora, vos vimos<br />

oferecer, para que o raro de vossa fermosura se logre feliz nos aplausos <strong>da</strong><br />

fama e possa mais convosco o pie<strong>do</strong>so hoje que o vingativo, que não condiz à<br />

fermosura a cruel<strong>da</strong>de. Mereça-vos vossa pátria, pois vos criou para admiração<br />

<strong>da</strong> beleza, o que não merece de quem vos julgais por ofendi<strong>da</strong>; sede extremo<br />

de pie<strong>do</strong>sa para que fiqueis sen<strong>do</strong> em tu<strong>do</strong> extremo.<br />

Assim deu fim Claudiano à peroração de sua proposta, de que Aurora se<br />

mostrou quasi venci<strong>da</strong>. E meten<strong>do</strong>-se por vale<strong>do</strong>res os rogos <strong>do</strong>s tios de Júlio<br />

e ain<strong>da</strong> os de seu pai Octávio que desejava, viven<strong>do</strong> com quietação, ver-se<br />

livre <strong>do</strong>s sustos destes inquietos tumultos, porque tolerável seria o agravo<br />

recebi<strong>do</strong>, se <strong>do</strong>s inquietos pun<strong>do</strong>nores <strong>da</strong> vingança o ofendi<strong>do</strong> se livrara, sen<strong>do</strong><br />

estes no agravo <strong>do</strong>bra<strong>da</strong> pensão <strong>da</strong> ofensa padeci<strong>da</strong>; mostrou Aurora que<br />

enfim era mulher em mu<strong>da</strong>r-se, responden<strong>do</strong> que obedeceria ao que seu pai<br />

fizesse. Alegre de tal nova, Claudiano e os tios <strong>do</strong> preso Júlio lhe renderam

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