17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1035<br />

que o evitar uma pena ou uma <strong>do</strong>r é o remédio que na aflição se procura, e<br />

quanto este for mais apressa<strong>do</strong> em remediar o <strong>da</strong>no, tanto se terá em maior<br />

estima; e casan<strong>do</strong> vós com Doroteia, não só declinais a mágoa, mas lisonjeais<br />

o gosto, que fica sen<strong>do</strong> ventura que nem to<strong>do</strong>s alcançam. Passar de um<br />

extremo a outro, raras vezes se passa com segurança, porque os sujeitos em<br />

que se recebem não estão igualmente dispostos para aceitarem um e outro,<br />

como ensina Aristóteles 1123 . Só a luz não tem contrário que haja de remover<br />

para luzir, porque as trevas são privação e não contrário; e por isso apenas o<br />

primeiro crepúsculo <strong>da</strong> aurora nos horizontes <strong>do</strong> horizonte se descobre,<br />

quan<strong>do</strong> to<strong>do</strong> o hemisfério fica luzi<strong>do</strong> e claro. Vós, Bonifácio, manifestais o<br />

maior sentimento em perderdes de Doroteia os antigos favores de escrever-vos<br />

e falar-vos e de sofrerdes hoje o esquivo de seu desdém; logo, bem se infere<br />

que se a alcançardes por esposa, conseguireis o extremo <strong>da</strong> maior alegria, se<br />

hoje vos considerais no centro <strong>da</strong> maior tristeza; e assim passareis de um a<br />

outro extremo, quan<strong>do</strong> o abrevia<strong>do</strong> deste remédio aceiteis.<br />

- Assim o confessara (respondeu Bonifácio) quan<strong>do</strong> meu sentimento<br />

pudera no esta<strong>do</strong> presente admitir este remédio; porém quis minha fortuna que<br />

dele não possa valer-me, porque sobre ciúmes que não excedem a enti<strong>da</strong>de de<br />

suspeitas imaginárias, representações que fabrica a fantasia, receios que<br />

origina o querer, não se asseguran<strong>do</strong> <strong>da</strong> ventura, bem se podia aspirar a<br />

casamento, porque, como diz Aristóteles 1124 , nem tu<strong>do</strong> o que parece é certo,<br />

nem tu<strong>do</strong> o que se suspeita é ver<strong>da</strong>de; e nestes termos ain<strong>da</strong> podia ter lugar o<br />

casamento de Doroteia para pedi-la a seus pais para esposa, pois aonde não<br />

se dá evidência <strong>da</strong> culpa, pode uma desculpa desterrar uma suspeita, desfazer<br />

um receio, desmentir uma aparência e condenar um engano. Porém se eu sei<br />

de certo que Hortênsio se carteia com Doroteia, que ela lhe escreve, que ele<br />

com desvelos a serve e que ela com esperanças de ser sua esposa com<br />

extremos o ama, parece-vos, Lisar<strong>do</strong>, que competia a meu pun<strong>do</strong>nor o<br />

casamento de quem me deixou por outro, empregan<strong>do</strong> nele não só os<br />

senti<strong>do</strong>s, mas to<strong>do</strong>s os cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s? Destes em outro tempo era eu só o centro<br />

em que paravam, só o objecto a quem se dirigiam. Não há, como disse<br />

Arist., Top. 2.<br />

Arist., Metaph. 4.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!