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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte I 155<br />

honra<strong>do</strong> e cari<strong>do</strong>so homem que os recebeu com grande cortesia. Tinha este<br />

um menino de pouca i<strong>da</strong>de que de noite com o seu choro não deixava repousar<br />

a quem na casa estava, o que visto pelo anjo, sem ser <strong>do</strong> pai senti<strong>do</strong>, se<br />

levantou e o afogou no berço, acção que vista <strong>do</strong> ermitão, sem poder remediá-<br />

la, além <strong>do</strong> grande sentimento e pena que dela recebeu, parecen<strong>do</strong>-lhe que<br />

obras tão desordena<strong>da</strong>s e tiranas não podiam preceder senão de algum<br />

espírito maligno, qual ser o anjo imaginava, se resolveu de não continuar mais<br />

tal jorna<strong>da</strong>, nem ir em sua companhia a parte alguma, e assim sain<strong>do</strong> de casa<br />

deste cari<strong>do</strong>so homem, que ficava com tal sentimento lamentan<strong>do</strong> a morte de<br />

seu defunto filho, que era o espelho em que se reviam suas esperanças, o<br />

ermitão, arman<strong>do</strong>-se com o sinal <strong>da</strong> cruz, conjurou ao anjo que ser demoníaco<br />

imaginava que o deixasse e em sua companhia não fosse; porém o anjo lhe<br />

disse:<br />

- Eu não sou demónio, como imaginas, senão anjo <strong>do</strong> senhor que me<br />

man<strong>do</strong>u para que manifestasse os ocultos juízos de sua eterna Providência<br />

que tanto alcançar procuras: e assim saberás que tirei a curiosa taça de prata<br />

àquele cari<strong>do</strong>so homem, que nos agasalhou a primeira noite tão afavelmente,<br />

porque com o muito que em vê-la se desvelava e recreava se esquecia e<br />

mostrava tíbio nas contínuas orações que antes de tê-la fazia, de que já o<br />

divertiam assim o gosto de possuí-la, como o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> de guardá-la: privei-o<br />

dela para que sua antiga devoção na<strong>da</strong> se diminua, mas antes se afervore e<br />

creça. Dei a mesma taça àquele homem rico descari<strong>do</strong>so para que nesta vi<strong>da</strong><br />

receba o prémio de alguma obra boa natural que tem feito, pois o não há-de<br />

receber na outra; que como Deus é sumamente justo, nem deixa obra má sem<br />

castigo, nem obra boa sem galardão. Precipitei no rio ao cria<strong>do</strong> <strong>do</strong> terceiro<br />

hóspede, que com tanta cari<strong>da</strong>de nos recebeu, porque tinha firme propósito de<br />

matar a seu amo na noite seguinte, e assim, afogan<strong>do</strong> eu ao trai<strong>do</strong>r cria<strong>do</strong>,<br />

livrou Deus <strong>da</strong> morte aquele que nos agasalhou tão cari<strong>do</strong>samente por seu<br />

amor, sen<strong>do</strong> particular benefício o que quem não alcança a razão dele pudera<br />

avaliar por agravo. Ultimamente afoguei no berço ao menino filho <strong>do</strong> nosso<br />

último hóspede caritativo porque, sen<strong>do</strong> de antes de extremo liberal para com<br />

os pobres, de lhe nacer este filho apertou a mão no bem fazer, in<strong>do</strong> de ca<strong>da</strong><br />

vez diminuin<strong>do</strong> as esmolas com os desejos de conservar e adquirir fazen<strong>da</strong><br />

para o filho, e assim tirei a vi<strong>da</strong> ao menino inocente em i<strong>da</strong>de tão venturosa

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