17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 633<br />

indecente com quem se confiou de ti sem conhecer-te, e por não<br />

desacreditares os motivos de minha confiança, souberas vencer teus mal<br />

nasci<strong>do</strong>s desejos. Porque se os rusticamente nasci<strong>do</strong>s temem o castigo, os<br />

que se prezam de nobres temem o descrédito. Vali-me de ti como mulher; se<br />

não querias guiar-me ao lugar a que eu ia, prosseguiras teu caminho; e pois<br />

não te obrigavam motivos de pie<strong>do</strong>so, não te precipitassem cautelas de<br />

fraudulento. E se não havias de guiar-me como pie<strong>do</strong>so, não me desviaras <strong>do</strong><br />

caminho como tirano. Em que te ofenderam meus rogos para serem com tal<br />

insolência castiga<strong>do</strong>s? Pois se não foram poderosos para que sinceramente<br />

me acompanhasses, nunca podiam ser merece<strong>do</strong>res para que me ofendesses.<br />

Se tens necessi<strong>da</strong>de, e esta te persuade a mostrar-te atrevi<strong>do</strong>, aqui tens estas<br />

jóias com que te remedeies; que as jóias para mim valem pouco, mas o<br />

pun<strong>do</strong>nor de minha honra é só o que vai tu<strong>do</strong>. Não te assegures para obrares<br />

como insolente no lugar deserto a que cautelosamente me conduziste. Porque<br />

em to<strong>do</strong> o lugar está Deus presente para <strong>da</strong>r-me o socorro e para <strong>da</strong>r-te o<br />

castigo.<br />

Com isto quis Aurora caminhar com a cria<strong>da</strong>, que banha<strong>da</strong> em lágrimas<br />

a seguia, quan<strong>do</strong> o desafora<strong>do</strong> António, pegan<strong>do</strong>-lhe <strong>do</strong> braço, quis impedir-lhe<br />

o caminho. Aurora quis soltar-se e ele com violência, arrancan<strong>do</strong> a a<strong>da</strong>ga, quis<br />

detê-la. Mas ela, animosa, pegan<strong>do</strong>-lhe nas guarnições <strong>da</strong> a<strong>da</strong>ga, intentava<br />

assegurar-lha, para que não pudesse executar o golpe que ameaçava,<br />

indecorosa acção para ameaço e bárbara para execução. Aos repeti<strong>do</strong>s e<br />

lastimosos gritos que a cria<strong>da</strong> <strong>da</strong>va, trouxe o Céu socorro de um ilustre<br />

espanhol, chama<strong>do</strong> Dom Rodrigo de Tole<strong>do</strong>, que bem acompanha<strong>do</strong> de<br />

cria<strong>do</strong>s não mui distante deste lugar ia caminhan<strong>do</strong> para Florença, o qual ao<br />

eco <strong>da</strong>s vozes acudiu ao correr <strong>do</strong> cavalo e os cria<strong>do</strong>s to<strong>do</strong>s em seu<br />

seguimento; e ao mesmo tempo que chegou, já Aurora tinha na mão duas<br />

feri<strong>da</strong>s pequenas, que lha tinham em sangue banha<strong>da</strong>, causa<strong>da</strong>s porventura<br />

de querer tirá-la <strong>da</strong> mão ao dissoluto António. Coléricos à vista desta tão<br />

indecente cruel<strong>da</strong>de, desmontaram <strong>do</strong>s cavalos Dom Rodrigo e seus cria<strong>do</strong>s.<br />

O que ven<strong>do</strong> António, quis fugin<strong>do</strong> ausentar-se <strong>da</strong> justa vingança que temia.<br />

Porém embargaram-lhe a fugi<strong>da</strong> as balas de duas espingar<strong>da</strong>s que lhe<br />

dispararam. De que cain<strong>do</strong> em terra mal feri<strong>do</strong>, lhe deram algumas estoca<strong>da</strong>s.<br />

E sem dúvi<strong>da</strong> o acabariam de matar, se a própria Aurora não pedira

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!