17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte III 493<br />

Prisioneiro Reginal<strong>do</strong> em casa <strong>do</strong> auditor e deposita<strong>da</strong> Flora em a de<br />

Vespasiano, sentiu ca<strong>da</strong> qual deles o rigor <strong>do</strong> apartamento, verdugo inexorável<br />

de quem ama, tirania <strong>do</strong> querer, martírio <strong>do</strong> coração afeiçoa<strong>do</strong> que, como diz<br />

Valério Máximo 475 , menos sente perder a vi<strong>da</strong> que apartar-se <strong>da</strong> companhia <strong>do</strong><br />

que ama. Donde veio a dizer Júlio César 476 que as cousas ausentes são as que<br />

mais atormentam e inquietam. Consolava Lívia as lágrimas de Flora com a<br />

persuadir a esperar as melhoras e acrescentamentos de Reginal<strong>do</strong>, com que<br />

sua escolha ficaria mais decorosa e seu amor mais desculpável nas opiniões<br />

<strong>do</strong>s que o condenavam por indecente. Ao que Flora, sem suspender as<br />

lágrimas de enterneci<strong>da</strong>, respondeu assim:<br />

- Quan<strong>do</strong>, senhora Lívia, Reginal<strong>do</strong> ou na quali<strong>da</strong>de ou na fortuna me<br />

igualara, pouco tivera que agradecer-me que por esposo o escolhera. Amor<br />

nas desigual<strong>da</strong>des se assina, que nas parelhas pouco se manifesta. Se<br />

Reginal<strong>do</strong> carecera de tantos <strong>do</strong>tes de que o enriqueceu a natureza para ser<br />

ama<strong>do</strong>, desculpas tivera minha escolha em se pintar o amor cego e tivera<br />

minha eleição tu<strong>do</strong> de amante e na<strong>da</strong> de entendi<strong>da</strong>. Mas quan<strong>do</strong> a natureza<br />

tão cui<strong>da</strong><strong>do</strong>sa o fez na gentileza raro, no valor animoso, na cortesia agradável,<br />

no juízo discreto, na conversação poli<strong>do</strong>, no trato afável e no amar tão fino, que<br />

lhe faltava para ser estima<strong>do</strong>? Nascer de pais humildes? Não quis a natureza<br />

<strong>da</strong>r-lhe tu<strong>do</strong> porque se não desvanecesse quan<strong>do</strong> na<strong>da</strong> lhe faltasse.<br />

Queixaram-se as aves a Júpiter, dizen<strong>do</strong> a águia porque, sen<strong>do</strong> <strong>da</strong>s aves<br />

rainha, não havia de ter a fermosura <strong>da</strong>s penas <strong>do</strong> pavão e a suave melodia <strong>do</strong><br />

rouxinol com que a to<strong>do</strong>s suspende quan<strong>do</strong> canta? Queixou-se o pavão porque<br />

lhe dera uma voz tão desabri<strong>da</strong>, sen<strong>do</strong> ave tão vistosa, que em suas penas<br />

retratava os resplan<strong>do</strong>res <strong>do</strong> sol e os olhos cintilantes <strong>do</strong> firmamento? Queixou-<br />

se o rouxinol porque sen<strong>do</strong> Orfeu <strong>do</strong>s pra<strong>do</strong>s, sonoro embaixa<strong>do</strong>r <strong>da</strong><br />

Primavera, o que dá música à aurora quan<strong>do</strong> nasce e canta vilancicos ao sol<br />

quan<strong>do</strong> ao meio-dia parece que a sesta <strong>do</strong>rme, não havia de ter melhores asas<br />

e mais fermosas penas? A to<strong>do</strong>s dizem satisfez Júpiter com uma só resposta,<br />

dizen<strong>do</strong> se contentassem com o que tinham, pois não se podia <strong>da</strong>r tu<strong>do</strong> a<br />

to<strong>do</strong>s.<br />

Vai. Maxim., Lib. 4.<br />

Caesar, De bello Gall. lib. 7.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!