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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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130 Padre Mateus Ribeiro<br />

por se haver persuadi<strong>do</strong> ser ele quem aconselhara a rainha o não consentisse<br />

coroar como pretendia.<br />

Ressentiu-se a rainha grandemente <strong>do</strong> desaforo, julgan<strong>do</strong>-o executa<strong>do</strong><br />

só a fim de molestá-la, perden<strong>do</strong>-lhe o respeito à sua grandeza devi<strong>do</strong>, tiran<strong>do</strong>-<br />

se a vi<strong>da</strong> em sua presença violentamente a um seu priva<strong>do</strong>, sem se tratar <strong>da</strong><br />

sua morte para efeito <strong>do</strong> castigo. Ajuntou-se a este sentimento a <strong>do</strong>r rigorosa<br />

<strong>do</strong>s ciúmes que teve de que el-rei seu esposo tratava secretos amores com<br />

uma <strong>da</strong>ma de quem se mostrava amante; e foram bastantes estas causas para<br />

que ela em quarto <strong>do</strong> paço separa<strong>da</strong> vivesse, não queren<strong>do</strong> admitir comércio<br />

algum de familiari<strong>da</strong>de sua, como quem tão justamente se sentia agrava<strong>da</strong> de<br />

pessoa a quem ela levantara à coroa <strong>do</strong> seu reino.<br />

Ingrato com extremos se mostrou Teseu com a fermosa Ariadne, filha de<br />

Minos, rei de Creta, pois sen<strong>do</strong> ela a ocasião de sua vi<strong>da</strong>, evitan<strong>do</strong> por seu<br />

meio a morte e deixan<strong>do</strong> por seu respeito as delícias <strong>do</strong> reino e casa de seu<br />

pai, seguin<strong>do</strong>-o em suas peregrinações, ele a deixou na ilha de Nasso, exposta<br />

aos maiores perigos, em prémio e galardão <strong>da</strong>s finezas que obrou por ele. Não<br />

menos se mostrou desconheci<strong>do</strong> Jasão, capitão <strong>do</strong>s argonautas, com Medeia,<br />

sua esposa, filha d'el-rei de Colcos, que por ela tinha executa<strong>do</strong> os maiores<br />

extremos, deixan<strong>do</strong>-a ao depois pelos novos amores de Creusa, filha de<br />

Creonte, rei de Corinto. Porém assim um como o outro pagaram a pena de sua<br />

ingratidão: Teseu sen<strong>do</strong> morto e despenha<strong>do</strong> de um precipício por Licomedes,<br />

rei de Ciro, a quem ele tinha i<strong>do</strong> pedir socorro contra os atenienses, e Jasão<br />

chegan<strong>do</strong> com suas próprias mãos a privar-se <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>, com desgosto e<br />

sentimento. Notável vício é o <strong>da</strong> ingratidão, e tão detestável que com haver<br />

nações bárbaras no mun<strong>do</strong> que se prezavam de vícios e se jactavam deles,<br />

não houve jamais, nem há quem de ingrato se jacte, nem desconheci<strong>do</strong> se<br />

confesse. Quintiliano 169 lhe chamou o maior de to<strong>do</strong>s os vícios; Erasmo 170 , o<br />

mais rigoroso <strong>do</strong>s agravos; homicídio <strong>do</strong>s benefícios a descreveu S.<br />

Ambrósio 171 ; e é vício sem escusa e delito sem desculpa de sua malícia.<br />

Quintil., Declam. 9.

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