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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos- Parte III 415<br />

Isto pressuposto, para que a ordem de sua alteza não fique sem efeito,<br />

nem meu filho sem decoro, eu e minha mulher Valentina levaremos a Módena<br />

a Amatilde à presença <strong>do</strong> senhor duque, juntamente com meu filho Felizar<strong>do</strong>,<br />

Sílvio e Dionísia, para que em sua presença se apure a ver<strong>da</strong>de, que fio eu de<br />

seu valor e justiça, ordenará o que for mais conforme à razão com sua<br />

prudência, que, como ensina Aristóteles, é a virtude própria <strong>do</strong> governo <strong>do</strong>s<br />

príncipes. E porque hoje é já tarde para a jorna<strong>da</strong>, sirva-se o senhor Dom<br />

Cláudio de ser hoje meu hóspede com estes senhores que o acompanham, e<br />

pela manhã partiremos à corte, pois acompanha<strong>da</strong> com Valentina, minha<br />

esposa, vai mais decente a quem ela é e à presença de quem espera sua<br />

vin<strong>da</strong>.<br />

Disseram to<strong>do</strong>s que era acerta<strong>do</strong> o conselho, se bem Dom Cláudio<br />

impaciente ain<strong>da</strong> replicar queria, mas como viu que to<strong>do</strong>s os que com ele<br />

vinham aprovavam o parecer de meu pai, houve contra seu gosto de<br />

acomo<strong>da</strong>r-se a ele, se bem temen<strong>do</strong> a diferença ser mui desigual no parti<strong>do</strong>,<br />

pois estan<strong>do</strong> eu de portas adentro e ten<strong>do</strong> minha mãe por medianeira bem<br />

previa que havia de conseguir quanto intentasse. Alegre eu <strong>do</strong> parti<strong>do</strong>, cobrei<br />

forças <strong>da</strong> fraqueza com que passava, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-me novo alento as esperanças<br />

que, como disse Tibulo 412 , são o remédio mais poderoso <strong>da</strong>s aflições.<br />

Preparou-se o agasalho decente para tais hóspedes e só em Dom Cláudio se<br />

via uma profun<strong>da</strong> tristeza que, por mais que procurava disfarçá-la, ela mesma<br />

se descobria. Não sempre (a) os ânimos são senhores <strong>da</strong>s paixões para ocultá-<br />

las, ain<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> se mostram poderosos para vencê-las. Bem deseja o<br />

delinquente encobrir a turbação, mas muitas vezes mal pode desmentir o temor<br />

porque publica o rosto o que quer esconder o desejo. Assim Dom Cláudio,<br />

como estava suborna<strong>do</strong> <strong>da</strong> fama <strong>da</strong> fermosura de Amatilde desde a hora que<br />

de Veneza chegou a nova <strong>do</strong> marquês e <strong>do</strong> que ordenava em seu testamento,<br />

se partiu, como depois se soube, a Fossa pelo Sella com alguns cria<strong>do</strong>s e<br />

músicos para vê-la disfarça<strong>do</strong>, <strong>da</strong>n<strong>do</strong>-lhe de noite a música que já referi; mas<br />

não lhe sen<strong>do</strong> possível vê-la, e ele não queren<strong>do</strong> de dia ser visto, se tornou a<br />

2 Tibul., Lib. 2.<br />

) Enten<strong>da</strong>-se: Nem sempre.

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