17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

1052 Padre Mateus Ribeiro<br />

- É tão pouco, discreta Fenisa, o que fiz para o que obrar desejo que<br />

mais necessito de perdão pelo pouco <strong>do</strong> que mereço agradecimento quan<strong>do</strong><br />

obrara muito; porque o render graças sobre limitações parece lisonja <strong>da</strong><br />

cortesia. Porém vivei segura que deveis muito à minha vontade e que nunca as<br />

obras poderão chegar a igualar sua grandeza.<br />

Com isto se despediu para Módena, deixan<strong>do</strong> vinte sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s <strong>da</strong> tropa<br />

em guar<strong>da</strong> <strong>da</strong> quinta, por assegurar a Carlos de alguma invasão repentina, se<br />

os parentes <strong>do</strong> morto intentassem ao descui<strong>do</strong> virem alguma noite tomar<br />

vingança dele, com que tu<strong>do</strong> ficou seguro e Carlos e seus pais de sustos e<br />

receios alivia<strong>do</strong>s, mostran<strong>do</strong>-se mui obriga<strong>do</strong>s ao generoso proceder com que<br />

Raimun<strong>do</strong> se havia empenha<strong>do</strong> a pô-los em liber<strong>da</strong>de e na sua própria quinta<br />

de Bom <strong>Porto</strong>, aonde podiam descansar de tantos sobressaltos padeci<strong>do</strong>s. Deu<br />

Raimun<strong>do</strong> notícias em chegan<strong>do</strong> a Módena a seu pai, o duque, <strong>do</strong> que tinha<br />

obra<strong>do</strong> por livrar a Carlos <strong>da</strong> morte e a seu pai Frederico de acabar em prisão a<br />

vi<strong>da</strong>, pois eram vassalos tão principais de sua alteza e porque estava<br />

certifica<strong>do</strong> que Carlos não tivera culpa na morte <strong>do</strong> defunto, antes o morto com<br />

trato <strong>do</strong>ble, desafian<strong>do</strong>-o para só, levara sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s foragi<strong>do</strong>s para o matarem,<br />

como sem dúvi<strong>da</strong> o fariam se um amigo de Carlos que passava ao a<strong>caso</strong> pela<br />

estra<strong>da</strong>, conhecen<strong>do</strong>-o na voz com que <strong>da</strong> traição se queixava, o não<br />

socorrera, que ven<strong>do</strong>-o tão mal feri<strong>do</strong> e os contrários com a insolência de<br />

quererem matá-lo, disparan<strong>do</strong> a clavina que levava, acertaram as balas no<br />

agressor, porventura em castigo <strong>da</strong> perfídia, com que caiu morto, fican<strong>do</strong><br />

Carlos mortalmente feri<strong>do</strong>.<br />

- Os sol<strong>da</strong><strong>do</strong>s, que viram morto a quem os conduzira, como eram<br />

criminosos, fugiram para esta ci<strong>da</strong>de e na estalagem em que pousaram<br />

manifestaram to<strong>da</strong> a ver<strong>da</strong>de <strong>do</strong> sucesso referi<strong>do</strong> e logo se passaram a<br />

Florença. Constou-me desta ver<strong>da</strong>de, e ouvin<strong>do</strong> eu a instância com que os pais<br />

<strong>do</strong> morto e seus parentes requeriam a morte de Carlos, empenhei-me em tirá-<br />

los de Bolonha, socorren<strong>do</strong>-os como a vassalos de vossa alteza, a cuja<br />

grandeza é justa obrigação auxiliar aos aflitos, como diz Cícero 1164 , sen<strong>do</strong> a<br />

melhor fortuna <strong>do</strong> poder, o poder socorrer aos oprimi<strong>do</strong>s. Carlos e seu pai são<br />

vassalos naturais de vossa alteza e como tais obriga<strong>do</strong>s a acudirem a seu<br />

Cicer., Pro Marc.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!