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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte VI 1071<br />

pretendia e que <strong>da</strong> soberba com que me deu tão não espera<strong>do</strong> desengano,<br />

ficou igualmente com o desengano de Raimun<strong>do</strong> castiga<strong>da</strong>. Nem de sua altiva<br />

presunção se podia esperar pretendesse menos que aspirar a ser duquesa de<br />

Módena, nem, excluí<strong>da</strong> desta generosa pretensão, haver de abater os brios a<br />

outro empenho sublunar, senão dedicar-se ao Rei <strong>da</strong> Glória para ficar coroa<strong>da</strong><br />

por esposa sua.<br />

Sobre isto discursaram meus amigos tantas razões e tão discretas que<br />

de to<strong>do</strong> ficaram alivia<strong>do</strong>s meus sentimentos. Então dei mais louvores à eleição<br />

de meu esta<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> vi de Fenisa tão aplaudi<strong>do</strong>s os acertos de sua tão feliz<br />

eleição, e logo determinei partir-me pessoalmente a Roma para alcançar de<br />

Sua Santi<strong>da</strong>de dispensação <strong>da</strong> morte de Octávio, visto haver si<strong>do</strong> tão casual,<br />

como referi<strong>do</strong> tenho, em noite escura, acudin<strong>do</strong> aos clamores de um amigo por<br />

defender-lhe a vi<strong>da</strong>, que com trato <strong>do</strong>ble intentavam matá-lo. E despedin<strong>do</strong>-me<br />

<strong>do</strong>s amigos caminhei para Roma com estes cria<strong>do</strong>s, que erran<strong>do</strong> o caminho<br />

vim ter a esta ermi<strong>da</strong> que foi para mim o maior acerto <strong>da</strong> ventura, pois a<br />

companhia de pessoas na vi<strong>da</strong> reforma<strong>da</strong>s, na conversação discretas e <strong>do</strong><br />

mun<strong>do</strong> desengana<strong>da</strong>s traz grandes utili<strong>da</strong>des a quem a logra. Bem disse o<br />

Séneca 1189 que um dia <strong>do</strong>s sábios val mais que a i<strong>da</strong>de mais dilata<strong>da</strong> <strong>do</strong>s que<br />

o não são. Só, diz Cícero 1190 , podemos gloriar-nos <strong>do</strong> que sabemos e não <strong>do</strong><br />

que possuímos, sentença que tinha colhi<strong>do</strong> de Platão 1191 : porque as riquezas e<br />

bens que se possuem estão sujeitas, como diz Juvenal 1192 , ao rui<strong>do</strong>so voltar <strong>da</strong><br />

inconstante ro<strong>da</strong> <strong>da</strong> fortuna, ao que as ciências não se sujeitam, porque nelas<br />

a fortuna não <strong>do</strong>mina. Agora <strong>do</strong>u por bem emprega<strong>do</strong>s os desvelos, os<br />

cui<strong>da</strong><strong>do</strong>s e as jorna<strong>da</strong>s em os anos de meu estu<strong>do</strong> justamente dispendi<strong>do</strong>s,<br />

pois são as letras que com eles adquiri o prémio de meus suores, que, como<br />

diz o Séneca 1193 , não deve um ânimo generoso recear os suores, quan<strong>do</strong> deles<br />

se segue o honroso e o aplaudi<strong>do</strong>. Em meus desgostos acho alívios, em meus<br />

pesares nos livros consolação, porque tu<strong>do</strong> quem estu<strong>do</strong>u achou nos livros, ou<br />

Senec, Epist. 10.<br />

Cicer., 3. De Orat.<br />

Plat., De amic.<br />

Juv., Sat. 7.<br />

Senec, Ep. 30.

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