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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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600 Padre Mateus Ribeiro<br />

Ouviu-me Aurora com atenção estas ou semelhantes palavras, que os<br />

repentes são ordinariamente mais empenhos <strong>do</strong>s poetas que de ora<strong>do</strong>res. E<br />

respondeu-me assim:<br />

- Quis, senhor Hortênsio, chamar-vos no tempo de vosso maior<br />

descui<strong>do</strong> para que me devêsseis a mim to<strong>do</strong> o cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e não a vossas<br />

diligências; porque neste repente que avaliais por ventura na<strong>da</strong> se devesse a<br />

vosso cui<strong>da</strong><strong>do</strong> e tu<strong>do</strong> a minhas finezas, se por tais forem julga<strong>da</strong>s, quan<strong>do</strong><br />

forem conheci<strong>da</strong>s. Meu nome é Aurora, sou filha única de Octávio Lambertas,<br />

pessoa bem conheci<strong>da</strong> em Bolonha e to<strong>do</strong> seu senhorio por principal rico e<br />

poderoso, de quem tereis bastantes notícias. Foi a nossa família <strong>do</strong>s<br />

Lambertases sempre na grandeza com a <strong>do</strong>s Galeazzos competi<strong>do</strong>ra, com<br />

antigos ban<strong>do</strong>s e hostili<strong>da</strong>des que Bolonha tem senti<strong>do</strong> desde os princípios de<br />

seu aumento. Ultimamente, haverá <strong>do</strong>us anos que Júlio Galeazzo, o principal<br />

deste inimigo ban<strong>do</strong>, no respeita<strong>do</strong> e no poderoso, vin<strong>do</strong> a pendenciar com<br />

meu irmão, Laurélio Lambertas, lhe deu a morte, porventura mais provoca<strong>do</strong><br />

<strong>da</strong>s competências antigas que <strong>da</strong>s ocasiões presentes. Prenderam-no logo<br />

pelo homicídio; e como o senhor Lega<strong>do</strong> é tão inteiro na justiça e nossa família<br />

tão poderosa e Júlio tão rico e aparenta<strong>do</strong>, empenhou-se to<strong>do</strong> o poder, assim<br />

desta ci<strong>da</strong>de como de muitos senhores de Itália, para abran<strong>da</strong>rem o justo<br />

sentimento de meu pai, para que Júlio não morresse e para que o senhor<br />

Lega<strong>do</strong> viesse tão só em conceder-lhe a vi<strong>da</strong>, mas ain<strong>da</strong> o perdão, se<br />

desvelaram em quererem que casasse eu com ele para paz destas famílias,<br />

que deste casamento se esperava. Abran<strong>do</strong>u meu pai o ira<strong>do</strong>, combati<strong>do</strong> de<br />

tantas rogativas. Mas eu, como penhasco duro e aos assaltos <strong>da</strong>s on<strong>da</strong>s<br />

invencível, me tenho oposto a seus intentos. E quan<strong>do</strong> vos pedi me<br />

acompanhásseis era para evitar, com sair-me <strong>da</strong> quinta pela porta de um<br />

jardim, a importunação de <strong>do</strong>us tios <strong>do</strong> preso Júlio Galeazzo que vinham a<br />

molestar-me o sofrimento sobre este de mim tão aborreci<strong>do</strong> casamento.<br />

Eu, senhor Hortênsio, não hei-de <strong>da</strong>r a mão de esposa a quem com a<br />

sua derramou de meu irmão o sangue: que se minha mãe lhe faltou para<br />

chorá-lo, fiquei eu em seu lugar para senti-lo, pois outro não tinha e por suas<br />

partes era tão digno de ser ama<strong>do</strong>. Casar em Bolonha não me convém, pelas<br />

razões que digo; sei que sois ilustre e forasteiro: se quiserdes ser meu esposo<br />

e levar-me convosco a Taranto, vossa pátria, o desgosto de meu pai curará o

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