17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

292 Padre Mateus Ribeiro<br />

fermosura, enriqueci<strong>da</strong> de partes e ama<strong>da</strong> com extremos, bem se manifesta,<br />

pesan<strong>do</strong>-se o sentimento na balança <strong>do</strong> amor, qual seria o vivo <strong>da</strong> mágoa e o<br />

excessivo <strong>da</strong> pena.<br />

- Oh filha minha (dizia a aflita mãe) quem pudera trocar contigo a sorte,<br />

<strong>da</strong>n<strong>do</strong>-te a vi<strong>da</strong> e passan<strong>do</strong> eu a morte? Nunca dá a ventura a escolha a um<br />

triste, pois lhe tira o que ama e lhe deixa o que aborrece. Que importou tua<br />

beleza se havia de acabar tão malogra<strong>da</strong>? Para <strong>do</strong>bra<strong>da</strong> mágoa minha te deu<br />

tantos <strong>do</strong>tes a natureza, para que tivesse a morte mais despojos que levar e eu<br />

mais penas que sentir. Que pouco deves ao mun<strong>do</strong>, pois no melhor te desterra;<br />

que pouco deves à vi<strong>da</strong>, pois no melhor te falta! Aonde te irei buscar, fugitiva<br />

glória minha, sol que a meus olhos te escondes, luz que me faltas? Se nas<br />

lágrimas deles pudera ter desafogo minha <strong>do</strong>r, perenes fontes os faria meu<br />

sentimento. Mas que água será bastante para moderar tanta pena, se por<br />

excessiva não pode ser a pena modera<strong>da</strong>? Oh morte, como fazes liga com<br />

meus pesares para de mim te esqueceres? Porque não te lembras de quem te<br />

busca já que te lembraste de quem te não buscava? Maior vitória tua fora<br />

levares a quem te deseja que <strong>da</strong>res assalto a quem te aborrecia. Deixaras a<br />

Felícia mais lograr para teres depois mais que vencer. Assaltar a um<br />

descui<strong>da</strong><strong>do</strong> bem pode ser astúcia, mas não valentia. Dos que esperam o<br />

combate são os triunfos mais gloriosos, se pode achar-se glória em teus<br />

triunfos. Em uma parte deste o golpe e em outra a <strong>do</strong>r por levares duas vi<strong>da</strong>s<br />

de um só golpe. Menos fizeras se logo me mataras, ficara-te obriga<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

própria tirania com que me trataras e agora fico ofendi<strong>da</strong> <strong>da</strong> pie<strong>da</strong>de com que<br />

me deixas. A quem aborrece a vi<strong>da</strong> na<strong>da</strong> lhe pode <strong>da</strong>r alívio, porque no próprio<br />

padecer consiste seu recreio. E não posso ficar-te obriga<strong>da</strong> porque viva, só te<br />

serei agradeci<strong>da</strong> quan<strong>do</strong> morta. Oh malogra<strong>da</strong> moci<strong>da</strong>de, flor que na flor <strong>do</strong>s<br />

anos acabaste em flor, delícia de meus senti<strong>do</strong>s quan<strong>do</strong> viva, rigor de minhas<br />

sau<strong>da</strong>des quan<strong>do</strong> morta! Que farei para acompanhar-te, pois tantas finezas fiz<br />

para querer-te? Seca-se com os incêndios <strong>da</strong> <strong>do</strong>r meu coração para que faltem<br />

lágrimas a meus olhos. Mas se estas podem ser algum alívio a minha pena,<br />

justo é que uma pena tão cruel não tenha alívio. Feche meu sentimento to<strong>da</strong>s<br />

as portas à consolação, para que nunca chegue a consolar-se meu eterno<br />

sentimento.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!