17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte II 361<br />

possível que ignorais que por isto comparou Santo Ambrósio a vi<strong>da</strong> humana<br />

à rosa, porque cerca<strong>da</strong> sempre de espinhos, <strong>do</strong>s próprios mimos <strong>do</strong> sol com<br />

que desvela<strong>do</strong> a cria, com seus mesmos resplan<strong>do</strong>res descui<strong>da</strong><strong>do</strong> a ofende,<br />

sen<strong>do</strong> seus raios carícias para que nasça e verdugos para que morra? Da vi<strong>da</strong><br />

humana disse Plutarco 357 que era tão variável nos acidentes que dificilmente se<br />

podia conhecer quan<strong>do</strong> estava venturosa ou quan<strong>do</strong> infelice; pensamento que<br />

seguiu Demóstenes, dizen<strong>do</strong> que na mu<strong>da</strong>nça perpétua <strong>da</strong> mortal vi<strong>da</strong> em<br />

breve espaço de tempo pede o venci<strong>do</strong> misericórdia ao vence<strong>do</strong>r e chega a<br />

pedir o vence<strong>do</strong>r pie<strong>da</strong>de ao que foi dele venci<strong>do</strong>. Pois sen<strong>do</strong> esta a condição<br />

<strong>da</strong> vi<strong>da</strong> a varie<strong>da</strong>de <strong>do</strong> mun<strong>do</strong>, de que vos admirais afligi<strong>do</strong> ou de que vos<br />

queixais impaciente? De verdes mu<strong>da</strong><strong>da</strong>s vossas bonanças em tormentas? Se<br />

o mun<strong>do</strong> é mar, como lhe chama São Agostinho, que raras vezes se mostra<br />

sereno, porque continuamente an<strong>da</strong> tempestuoso e inquieto; e assim mais nos<br />

pudéramos admirar de suas bonanças que de seus perigos. Pois, como diz<br />

Cícero, o costume de padecer desterra a novi<strong>da</strong>de de sentir.<br />

Queixais-vos <strong>da</strong> fermosura de vossa esposa? Injusta queixa é que<br />

sintais alcançar o que tantos não puderam merecer. O que to<strong>do</strong>s avaliam por<br />

ventura, sem razão quereis vós condenar por desgraça. E mostran<strong>do</strong>-se com<br />

ela tão liberal a natureza, queríeis que fosse pródiga a fortuna? Que ofensa fez<br />

a algum o ser fermosa? Que culpa tem a candeia em luzir para se abrasar a<br />

mariposa por se lhe avizinhar? Que delito comete a luz em resplandecer de<br />

longe para querer a borboleta conversá-la de perto? Não está o <strong>da</strong>no na luz<br />

quan<strong>do</strong> resplandece, está o perigo nas asas de quem precipita<strong>do</strong> se atreve. De<br />

outra sorte só no mun<strong>do</strong> seriam estima<strong>da</strong>s as feias e aborreci<strong>da</strong>s as fermosas.<br />

O que é erro; porque a fermosura per si não deixa, como diz Platão 358 , de ser<br />

objecto grande <strong>do</strong> amor, e tirar-lhe o ser amável ou seria mu<strong>da</strong>r-lhe a natureza,<br />

ou privá-la <strong>do</strong> objecto. O que se não concede dizíeis que com trabalhos se<br />

alcança e com perigos se possui. E que cousa houve jamais digna de<br />

estimação que sem moléstia se adquirisse e sem temores se lograsse? As<br />

pedras preciosas, as pérolas de valor mais ricas, as jóias mais subi<strong>da</strong>s no<br />

Ambr., in Hexam. lib. 3. c. 11.<br />

Plutarc, De tranquilit. anim.<br />

Plato, De pulchri.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!