17.04.2013 Views

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Alívio de tristes e consolação de queixosos - Parte IV 629<br />

solitário vos encontre. Se a tais passos vos obriga a fortuna, pouco respeito<br />

guar<strong>da</strong> à vossa beleza. E se vos guia amor, muitas finezas vos deve tão<br />

venturoso amante. Que procurais no palácio <strong>do</strong>s Rossis? Se asilo, vossa<br />

ventura vos assegura. Pois nunca se atreverá a justiça a quebrar as<br />

imuni<strong>da</strong>des <strong>da</strong> beleza. Se vos obrigam amorosos desvelos, desacerto parece<br />

humilhar o soberano e desmontar o sublime: que correm risco a se<br />

desestimarem por rendi<strong>do</strong>s os sacrifícios que de tais desvelos fazeis. Nas<br />

altivezas se conserva a estimação e é fina razão de esta<strong>do</strong> <strong>da</strong> gravi<strong>da</strong>de o não<br />

se <strong>da</strong>r por pensioneira aos serviços. Não advertis que o que foi venera<strong>do</strong> por<br />

altivo, em humilhan<strong>do</strong> o ceptro de soberano, perdeu logo os privilégios <strong>da</strong><br />

estimação? As vontades em se ven<strong>do</strong> lisonjea<strong>da</strong>s <strong>do</strong>s favores, logo<br />

desvaneci<strong>da</strong>s apelam para a ingratidão, e quan<strong>do</strong> se haviam de reconhecer<br />

mais obriga<strong>da</strong>s, fazem gala de ostentar-se mais isentas. Isto digo, senhora,<br />

porque na admiração de ver-vos a tais horas e em tal lugar perdi<strong>da</strong>,<br />

consideran<strong>do</strong> o muito que mereceis, invejo as felici<strong>da</strong>des <strong>do</strong> venturoso sujeito a<br />

quem tão custosamente buscais. Porém se é gosto vosso prosseguirdes o<br />

caminho, que dizeis que fica <strong>da</strong>qui distante mais de três léguas, eu me ofereço<br />

a guiar-vos; porque suposto que para romper a manhã há ain<strong>da</strong> larga distância,<br />

farei conta que sempre caminha de dia quem leva consigo o sol.<br />

Assim falou o desconheci<strong>do</strong> passageiro, deixan<strong>do</strong> Aurora suspensa <strong>do</strong>s<br />

acertos que dizia sobre os próprios motivos que ignorava. Quisera ela vê-lo<br />

mais grosseiro que discreto e era já força o confiar-se dele, no mesmo tempo<br />

em que o temia, sem lhe <strong>da</strong>r a entender que <strong>da</strong> sua companhia desconfiava.<br />

Que muitas vezes se provocam as enfermi<strong>da</strong>des de se aplicarem sem<br />

necessi<strong>da</strong>de os remédios e dá motivos a desconfiança para despertarem as<br />

rebeliões e hostili<strong>da</strong>des <strong>do</strong>rmi<strong>da</strong>s. Fazen<strong>do</strong> Alexandre, rei de Jerusalém,<br />

guerra cruel aos ptolomai<strong>da</strong>s, pediram eles socorro a Ptolomeu, rei de Egipto,<br />

que ele logo lhes deu. E porque eles já desconfia<strong>do</strong>s o não quiseram aceitar, o<br />

rei egípcio, indigna<strong>do</strong> de desconfiarem de seu zelo, se declarou por inimigo e à<br />

força de armas os conquistou.<br />

Com corteses palavras lhe agradeceu Aurora o favor que lhe fazia em<br />

lhe servir de guia, sem responder ao mais, fazen<strong>do</strong>-se desentendi<strong>da</strong> aos<br />

hipérboles com que exagerava seu merecimento. E assi começaram a<br />

caminhar por onde ele a guiava. Era Aurora prudente e animosa: nem

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!