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o caso mateus ribeiro - Repositório Aberto da Universidade do Porto

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824 Padre Mateus Ribeiro<br />

desse mate a to<strong>do</strong>s na ventura, assi como os excedia na riqueza. Que pudesse<br />

gloriar-se de ser único no possuir o em que ninguém pudesse emparelhar.<br />

Igualou o amor que o rei lhe tinha com a fermosa esposa que escolhera; pois<br />

podia só ter igual<strong>da</strong>de nas finezas <strong>do</strong> querer com os extremos <strong>da</strong> beleza que a<br />

rainha por singular chegava a ostentar.<br />

Era tal o excesso <strong>da</strong> alegria que no coração de Can<strong>da</strong>ules se <strong>da</strong>va, que<br />

não caben<strong>do</strong> em tão estreito <strong>do</strong>micílio, quis romper os muros <strong>do</strong> coração para<br />

sair a público. Assi disse Cassio<strong>do</strong>ro 740 que a alegria que redun<strong>da</strong> sobre a<br />

capaci<strong>da</strong>de <strong>do</strong> coração não sabe guar<strong>da</strong>r mo<strong>do</strong> para publicar-se. É uma alegria<br />

repeti<strong>da</strong> na duração, diz Cícero 741 , a que chega a descompor a razão e a<br />

desordenar os ditames <strong>do</strong> juízo; pois fazia que o indiscreto rei em qualquer<br />

ocasião, e ain<strong>da</strong> sem ela, an<strong>da</strong>sse divulgan<strong>do</strong> louvores <strong>da</strong> rara fermosura de<br />

sua esposa. É o excesso <strong>do</strong> louvor, diz Plutarco 742 , incentivo grande <strong>da</strong> inveja.<br />

Se Tarquínio Collatino não intentara nos louvores <strong>da</strong> beleza, gravi<strong>da</strong>de e<br />

honesto recolhimento louvar tanto a Lucrécia, sua esposa, não ocasionara<br />

motivos a que Sexto Tarquínio, filho de Tarquínio o Soberbo, se empenhasse<br />

em querer ver desluzi<strong>da</strong> de seu esposo a confiança e de Lucrécia o louvor. E<br />

assi como louvar-se a si mesmo, diz Valério Máximo 743 , é efeito de vai<strong>da</strong>de<br />

néscia, assi o louvar publicamente um mari<strong>do</strong> a fermosura de sua mulher é<br />

desluzimento de entendi<strong>do</strong> e manifesto perigo de se poder ver pesaroso de não<br />

haver si<strong>do</strong> acautela<strong>do</strong>.<br />

Não parou a indiscreta alegria <strong>do</strong> inadverti<strong>do</strong> rei nos repeti<strong>do</strong>s encómios<br />

que à rainha sua esposa <strong>da</strong>va, sen<strong>do</strong> que só sua vista era o abono mais firme<br />

de seu louvor: pois sem ele ser o ora<strong>do</strong>r que seus panegíricos manifestasse,<br />

em o raro de sua beleza se descobria que excedia seu merecimento ao<br />

exagera<strong>do</strong> <strong>do</strong> maior louvor; quis o rei a Giges, seu vali<strong>do</strong> e seu maior amigo,<br />

fazer tão delirante favor de lhe mostrar descomposta a rainha, estan<strong>do</strong> na<br />

cama <strong>do</strong>rmin<strong>do</strong>. Escusava-se Giges desta tão indecorosa vista, pressagian<strong>do</strong><br />

que depois ou o rei arrependi<strong>do</strong> havia de aborrecê-lo, ou a rainha de irosa<br />

Cie, 1. Par.<br />

Plut., De Pol.<br />

Val. Maxim., Lib. 7.

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